08/05/2015 12:45:00 - Atualizado em 08/05/2015 18:40:00

Polícia quer reconstituir execução de PMs contra jovem, mas caso emperra

Por Luís Adorno/RedeTV!

Vídeo mostra execução em dezembro de 2014 na zona sul de SP

Cinco meses atrás, o vendedor Thiago Vieira da Silva, então com 22 anos, foi executado por dois PMs (policiais militares) no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo. O caso foi revelado pela RedeTV! através de um vídeo obtido com exclusividade. Desde o homicídio - reconhecido assim pelos órgãos que investigam o crime -, o caso está praticamente parado. Os policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenez Coelho dispararam 10 vezes contra Thiago, que, segundo amigos e família, voltava de uma casa noturna na noite do dia 9 de dezembro de 2014.

A Ouvidoria das Polícias de São Paulo informou que, no dia 31 de março - último andamento do caso -, policiais que investigam este assassinato informaram que a execução de Thiago Vieira da Silva ainda está em fase de instrução, aguardando o recebimento de laudos periciais para, só depois, deliberar à autoridade policial a reconstituição do crime. O agente também informou que são aguardados vídeos e imagens, mesmo esses documentos já tendo sido anexados no inquérito policial e em reportagens jornalísticas.

Thiago Vieira da Silva, 22 anos

ENTENDA O CASO DESDE O INÍCIO:
- Por volta das 23h50 de terça-feira (9), Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, foi executado por dois PMs
Na quarta-feira (10), a equipe da RedeTV! foi até o local. O governo, afirmou que houve tiroteio; todos os moradores locais desmentiram
Com o Boletim de Ocorrência em mãos,os policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Coelho foram identificados como os autores da execução. Eles, até a manhã do dia 12, não haviam sido afastados
O ouvidor das polícias de SP pediu ao MP, DHPP e Corregedoria que o assassinato fosse investigado
Na tarde do dia 12, os policiais foram afastados e serão investigados, com o risco de serem exonerados da função
Prefeitura de SP divulgou nota de pesar, citando as reportagens da RedeTV!
Exclusivo: mãe de jovem morto por PMs contesta versão da polícia
MP diz que vai investigar o caso em 2015
Afastados, PMs não devem voltar à corporação
Gilberto Dardora e Rodrigo Gimezes Coelho, afastados da 1ª Companhia do 1ºBatalhão da Polícia Militar, afirmaram na delegacia que houve uma troca de tiros e que Thiago e um outro rapaz estavam traficando drogas no momento do suposto confronto. A reportagem da RedeTV! esteve no local logo após o acontecimento e constatou que havia marcas de bala em apenas um lado da calçada, dando a entender que apenas os policiais atiraram. Moradores da rua onde o crime aconteceu e a família do vendedor, que trabalhava em um comércio com o pai, afirmam que o rapaz não estava com drogas, nem arma e que foi executado.

Logo após o crime, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os policiais prenderam, em flagrante, Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, com uma bolsa carregada de drogas, depois de a corporação ter sido acionada para atender uma denúncia de tráfico. A pasta informou, ainda, que o rapaz foi detido após ter se entregado, e que Thiago tentou fugir. Ao lado do corpo, segundo a secretaria, foi encontrado um revólver calibre 38. A versão foi desmentida por todos que presenciaram a ação. Um policial civil à frente do caso afirmou que foi relatado ao Poder Judiciário e ao MP (Ministério Público) o suposto crime de tráfico praticado por Leandro.

O amigo que foi à balada com Thiago aquela noite, não identificado por motivos de segurança, disse que eles conversavam na rua no momento da abordagem. “Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar para casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”, afirmou à reportagem do portal da RedeTV!. Um morador da região, que ouviu Thiago pedir socorro antes de ser executado, disse que os policiais voltaram à rua, depois da execução, para revistar os celulares das pessoas. “Apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, relatou.

Um outro morador afirmou à reportagem que ele e seus vizinhos não viram a mochila que foi apreendida com Leandro, cheia de drogas, muito menos uma arma com Thiago. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila. Estavam dando risada na rua”. A mãe da vítima, que pediu para não ser identificada, disse que o filho sempre foi trabalhador e que espera, pelo menos Justiça, para que seu filho “não tenha sido morto como marginal”. 

O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, condenou com veemência a ação dos policiais. “O policial militar não está aí para matar alguém, para executar uma sentença de morte. O policial militar está aí para prender e para levar esse cidadão para um distrito policial”, afirmou.

Policiais não respeitaram orientação

A ação dos policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Gimezes Coelho não respeitou a orientação dada a todos os agentes de segurança pública: o método Giraldi. De acordo com essa orientação, durante uma abordagem que requer a contenção de um suspeito, o policial deve disparar apenas duas vezes, caso seja necessário. Se o suspeito estiver armado e reagir, o agente deve seguir com mais dois disparos seguidos até que a situação fique segura.

Isso não aconteceu com Thiago Vieira da Silva. Ele gritou socorro três vezes antes do primeiro disparo, quando ele parece já ter desacordado. O PM Dartora deu os quatro primeiros disparos, seguidos. Depois, o policial Rodrigo Gimezes Coelho, que estava na cobertura do primeiro agente, também atirou. Ao todo, 10 tiros foram disparados contra o vendedor que voltava da balada com os amigos.

Recomendado para você

Comentários