11/12/2014 12:21:00 - Atualizado em 05/10/2015 18:29:00

Jovem pede socorro antes de ser alvejado por PMs na zona sul de SP

Por Luís Adorno/RedeTV!


Thiago Vieira da Silva tinha 22 anos (Foto: Reprodução/Facebook)

Dois PMs (policiais militares) executaram um jovem e prenderam outro rapaz na região do Jardim São Luis, na zona sul de São Paulo, na noite de terça-feira (9). Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, foi alvejado por dois policiais na rua Acédio José Fontanete. Após clamar por socorro três vezes, um dos PMs dispara quatro vezes, de forma seguida. Depois, já inconsciente, o suspeito é alvejado mais seis vezes pelo dois agentes.

O método Giraldi, repassado a todos os policiais, determina que durante uma abordagem a contenção do suspeito, caso seja necessária, deve ser feita com apenas dois disparos quando o agente está manuseando revólver, pistola ou metralhadora portátil. Na vida real, quando não forem suficientes para fazer cessar a ação de morte do agressor contra a sua vítima, serão repetidos”, aponta um item do método. 

Assista ao vídeo gravado por um cinegrafista amador:

Neste caso específico, os PMs não seguiram a orientação, já que, depois do primeiro disparo, não se ouve mais nada do jovem, o que leva a crer que Thiago desacordou na hora.

De acordo com a PM, houve tiroteio. A versão não é confirmada por moradores locais, que afirmam, sem se identificar, que o jovem foi rendido e executado. A equipe da RedeTV! foi até o local da suposta troca de tiros na tarde de quarta-feira (10). De um lado da rua, há diversos fragmentos de bala e perfurações na parede e em carros estacionados. O outro lado está intacto.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que por volta das 23h50 de terça, os PMs prenderam em flagrante Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, com uma bolsa carregada de drogas, depois de a corporação ter sido acionada para atender uma denúncia de tráfico. A pasta afirma que o rapaz detido se entregou, e Thiago, tentou fugir.

“Em dado momento, Thiago se abrigou entre dois carros que estavam estacionados e voltou a atirar contra um dos PMs, que revidou. Outro policial veio em apoio, se aproximou pelo lado direito e também atirou, acertando o suspeito que morreu no local”, afirma a SSP. Quem viu a cena, desmente a versão oficial da pasta. “Como é que ele gritaria socorro três vezes antes de morrer se estivesse fugindo?“, questiona um morador local.

A SSP afirma, ainda, que ao lado do corpo foi encontrado um revólver calibre 38. A polícia diz que Leandro estava com uma mochila que tinha 80 papelotes de maconha, 219 pinos de cocaína, 58 frascos de lança perfume, 34 pedras de crack, além de R$ 14,80 e um telefone celular. Outro morador da região, que também viu a cena, desmente novamente a pasta. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila”, afirmou.

Um garoto conta que, depois da execução, os policiais voltaram ao local para revistar os celulares dos moradores. “Ele chegou, apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, afirmou. Um amigo de Thiago afirma ter sido o último a falar com ele. “Poderia ter sido eu e um outro amigo nosso. A gente estava na rua, bebendo. Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar pra casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”.

O DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) instaurou inquérito policial para investigar o caso. A Ouvidoria das Polícias de São Paulo afirmou que levará o caso à Corregedoria nesta quinta-feira (11).

Assista à reportagem feita para o RedeTV News, após denúncia do portal da RedeTV!:

  

Esta reportagem desencadeou uma série elaborada pelo portal da RedeTV!. Confira, abaixo a sequência:
Por volta das 23h50 de terça-feira (9), Thiago Vieira da Silva, de 22 anos, foi executado por dois PMs

Na quarta-feira (10), a equipe do RedeTV News foi até o local. O governo, afirmou que houve tiroteio; todos os moradores locais desmentiram
Com o Boletim de Ocorrência em mãos, os policiais Gilberto Dartora e Rodrigo Coelho foram identificados como os autores da execução. Eles, até a manhã do dia 12, não haviam sido afastados
O ouvidor das polícias de SP pediu ao MP, DHPP e Corregedoria que o assassinato fosse investigado
Na tarde do dia 12, os policiais foram afastados e serão investigados, com o risco de serem exonerados da função
Prefeitura de SP divulgou nota de pesar, citando as reportagens da RedeTV!
Exclusivo: mãe de jovem morto por PMs contesta versão da polícia
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