06/01/2020 11:41:00 - Atualizado em 07/01/2020 08:26:00

Quem é Domingos Brazão, conselheiro do TCE acusado de matar Marielle Franco

Arthur Henrique - Redação/RedeTV!

Denúncia da PGR aponta ex-deputado estadual como principal suspeito no assassinato da vereadora, em 2018; ele teria pago R$ 500 mil pelo crime


Domingos Brazão é ex-deputado estadual (DEM-RJ) e principal acusado de assassinar Marielle Franco - (Reprodução/TV Brasil)

Em seu último ato na Procuradoria-Geral da República (PGR), Raquel Dodge apontou, em denúncia enviada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), o ex-deputado e conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Rio) Domingos Brazão como "principal suspeito de ser autor intelectual" do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

De acordo com a então chefe da PGR, Brazão e outros investigados supostamente desviaram o curso da investigação, pois o mesmo "arquitetou o homicídio da vereadora Marielle Franco e visando manter-se impune, esquematizou a difusão de notícia falsa sobre os responsáveis pelo homicídio."

Ainda de acordo com Dodge, o ex-deputado estadual (DEM-RJ) aproveitou das benesses do do cargo e da estrutura do gabinete no TCE para desvirtuar a investigação.

Além do conselheiro, também foi denunciado um de seus funcionários, Gilberto Ribeiro da Costa, o PM Rodrigo Ferreira, a advogada Camila Nogueira e o delegado da PF, Hélio Khristian.

A denúncia foi assinada por Raquel Dodge em setembro, antes de deixar o cargo. No mesmo mês, a então procuradora pediu a federalização das investigações do caso Marielle.

Crime custou R$ 500 mil

Na denúncia de Dodge para o STJ, também foi incluído o áudio de uma conversa em que o miliciano Jorge Alberto Moreth - conhecido como 'Beto Bomba' - afirma ao vereador Marcello Sicilliano (PHS) que Brazão é o mandante do assassinato de Marielle. Segundo a ligação telefônica, o ex-deputado teria pago R$ 500 mil pela morte da vereadora e do motorista Anderson.

O registro do diálogo foi obtido com exclusividade pelo portal UOL. Para a então procuradora-geral da República, o arquivo de áudio é “a prova mais importante”, até então, do envolvimento de Brazão no caso.

"Só que o Sr. Brazão veio aqui fazer um pedido para um dos nossos aqui, que fez contato com o pessoal do Escritório do Crime, fora do Adriano, sem consentimento do Adriano. Os moleques foram lá, montaram uma cabrazinha, fizeram o trabalho de casa, tudo bonitinho, ba-ba-ba, escoltaram, esperaram, papa-pa, pa-pa-pa pum. Foram lá e tacaram fogo nela [Marielle]", detalhou Moreth na ligação telefônica.

Os "moleques" citados - Mad, Macaquinho e Leléo - são assassinos de aluguel do Escritório do Crime, de acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Na continuação da conversa, o mliciano afirma ao vereador que Brazão pagou $ 500 mil pela morte de Marielle.

"O bagulhinho [morte da vereadora] foi quinhentos conto, irmão, pra matar aquela merda, quinhentos cruzeiros. Cada um levou uma pontinha, o carro saiu realmente lá de cima do Floresta [um clube na zona oeste do Rio], eles foram lá, tiraram foto, câmera, ba-ba-ba, só que o carro era um doublé e o carro já acabou, a arma já acabou (...) Quem empurrou foi os três moleques a mando de Sr Brazão, simples", concluiu.

De político para conselheiro


Caso Marielle: Dodge denunciou Brazão por supostas obstruções nas investigações do assassinato - (Foto: Reprodução/Youtube)

Domingos Inácio Brazão começou sua trajetória política em bairros mais pobres e afastados do Rio, na zona oeste do estado. Antes da carreira no TCE, foi vereador da capital em 96 e deputado estadual por três vezes consecutivas (2002, 2006 e 2010).

Popular nas comunidades cariocas, chegou a ser campeão de votos em Rio das Pedras, uma das maiores favelas da capital carioca, em 2006.

Em abril de 2015, Brazão foi eleito conselheiro do TCE, com 61 votos. Atualmente está afastado do cargo vitalício, após ser alvo da operação Operação Quinto do Ouro, da Polícia Federal. Segundo as investigações, ele e outros quatro conselheiros foram do órgão são suspeitos de participar de um esquema de desvio de verbas públicas.

Figura polêmica, Brazão admitiu ter matado um homem em 1987. O processo ficou parado e subiu para o Tribunal de Justiça em 2000, logo após se tornar deputado estadual. Em 2002, a Corte Especial rejeitou a condenação e, na Assembleia Legislativa (Alerj), Brazão afirmou que "a Justiça o deu razão”.

Assassinato de Marielle

A vereadora Marielle Franco, de 38 anos, e o motorista Anderson Gomes, de 39, foram assassinados na noite de 14 de março de 2018, quando o carro onde estavam foi alvo de disparos de criminosos no cruzamento das Ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no centro do Rio. Uma assessora, Fernanda Chaves, que também estava no carro, sobreviveu.

A vereadora voltava de um evento que participava, o "Jovens Negras Movendo Estruturas", em um espaço na Lapa. Ela foi seguida desde que saiu do local.

Vereadora Marielle Franco foi morta em março de 2018 - (Foto: Reprodução/Instagram)

A morte causou grande repercussão no País, levando a mobilizações e manifestações em diversas cidades. A reivindicação do protesto foi sintetizado na frase "Quem matou e quem mandou matar Marielle?", que se popularizou desde então.

Marielle nasceu em 1979 e cresceu no Complexo da Maré, na zona norte do Rio. Formou-se em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi eleita vereadora do Rio pelo PSOL com 46,5 mil votos - a 5ª maior votação. Estreante na Câmara, participava de comissão para acompanhar a intervenção federal no Rio.

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