26/03/2015 07:02:00 - Atualizado em 26/03/2015 07:02:00

Guerras no Oriente Médio deixam escassez de água no limite, diz CICV

Por Luís Adorno/RedeTV!


Crianças refugiadas da Síria na Turquia (Foto: Divulgação/EC/ECHO)

Com os intensos confrontos na Síria e no Iraque, e com muitas comunidades ainda se recuperando no Líbano, Israel e Palestina, os recursos hídricos da região e as redes de distribuição obsoletas estão chegando a um limite, segundo levantamento divulgado pelo CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha). 

Mesmo sem os impactos devastadores das recentes secas e contínuos conflitos, muitos Estados do Oriente Médio e do Golfo estariam enfrentando dificuldades para atender as necessidades básicas de água de populações urbanas cada vez maiores e do aumento nas demandas de produção alimentícia. 

Agora, com cerca de 7,6 milhões de pessoas deslocadas dentro da Síria e cerca de 3,8 milhões de pessoas que buscam segurança em países vizinhos – junto com outros 2,5 milhões de deslocados devido ao confronto no Iraque – a situação é ainda mais crítica, afirma o comitê. 

"As redes de abastecimento de água na região sofrem grande pressão", afirma o presidente do CICV, Peter Maurer. "Os recursos hídricos se esgotam rapidamente e a infraestrutura para abastecimento de água está gravemente destruída nas áreas onde as autoridades locais já sofrem uma grande pressão para atender as necessidades de populações cada vez maiores. O deslocamento em massa em decorrência de conflitos só agrava o problema. Se não forem feitos esforços urgentes, chegaremos ao limite. Por esse motivo, devemos agir agora para proteger e preservar este recurso essencial e vital". 


Sírios refugiados na Turquia (Foto: Divulgação/EC/ECHO)

No entanto, os índices pluviométricos mais baixos já registrados, a diminuição dos aquíferos, o uso excessivo dos parcos recursos e os impactos devastadores do conflito fazem com que seja ainda mais difícil conseguir água potável. Para piorar mais a situação, as partes beligerantes algumas vezes atacam diretamente as infraestruturas de fornecimento de água e energia ou interrompem deliberadamente esses serviços para obter vantagens militares ou políticas. 

"Usar o acesso à água como tática ou arma durante um conflito ou atacar diretamente a infraestrutura de água e energia, não só constituem uma violação às leis do conflito armado, como também trazem efeitos prejudiciais às vidas das pessoas cuja saúde já é extremamente vulnerável", comenta o chefe de operações do CICV para o Oriente Médio, Robert Mardini. 

"Ataques como esses são particularmente prejudiciais porque o abastecimento de água e energia está intimamente interconectado", continuou Mardini. "Um ataque a uma usina elétrica, por exemplo, poderia ter um impacto muito grave no tratamento de esgoto, na disponibilidade e qualidade da água ou no funcionamento da infraestrutura de saúde. A comunidade humanitária não tem capacidade de atender as necessidades da população para substituir continuamente os serviços ou oferecer consertos rápidos". 

Em muitos casos, o esgoto e as águas residuais não estão sendo tratados da maneira adequada, representando uma grande ameaça à saúde comunitária das populações vulneráveis. As redes hídricas perdem uma quantidade importante de água devido à falta de manutenção – uma situação quase sempre causada diretamente pelo conflito. Somente na Síria, as autoridades locais estimaram, em 2014, que perderam 60 por cento da água pelos vazamentos na rede devido aos estragos causados pelo conflito. 


Área bombardeada na Síria (Foto: Divulgação/
Edlib News Network ENN)

Ao mesmo tempo em que não existem soluções fáceis para os problemas de água na região, o CICV e os seus parceiros nacionais já fazem uma grande diferença nas vidas de milhões de pessoas afetadas pelo conflito. Trabalhando com as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e com as autoridades responsáveis pelo abastecimento de água e energia, o CICV pôde manter em funcionamento serviços vitais. Mesmo durante o intenso confronto, a organização ajudou a fornecer água potável - tão necessária – a milhões de pessoas em todos os países afetados. 

"Há motivos para ter esperança", afirma Mardini. "Este problema, em grande parte, é causado pelos homens e pode ser resolvido pelos homens. Mas depende do apoio e dos esforços conjuntos de todos, da comunidade internacional e das comunidades locais. O problema e as soluções pertencem a todos e devemos nos assegurar de que a água esteja disponível para todos".

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