TV FAMA

hostilizada na faculdade

Geisy Arruda 10 anos depois do vestido rosa: "Nada mudou, agora disfarçam melhor o machismo"

Sara Oliveira/RedeTV!

Geisy relembra agressão após usar vestido rosa na faculdade

Vítima que precisou provar a própria inocência na Justiça, Geisy Arruda tornou-se um símbolo após usar um vestido rosa - simples, mas que ela considerava "bafônico" - para ir à faculdade e acabar perseguida por alunos aos gritos de puta. No ano em que o caso completa uma década, ela acredita que essa história não se repetiria, mas não porque a sociedade evoluiu para aceitar que as mulheres podem usar a roupa que querem, mas porque, para ela, aqueles que julgam e apontam dedos são mais sutis agora.

"Não acredito muito em liberdade, não. Acredito que as pessoas disfarçam melhor”, dispara Geisy em entrevista ao portal da RedeTV!, ao comentar o episódio, que ocorreu em 22 de outubro de 2009. “Hoje em dia, você pode ver um exemplo muito básico: se uma mulher é pega na rua e é estuprada, a primeira coisa que as pessoas perguntam é com que roupa ela estava. Então, se ela estava com um vestido e um short muito curtos, ela mereceu”.

Geisy ainda cita casos como o da empresária Elaine Perez Caparroz (espancada por 4h na própria casa), e da carioca Thamires Blanco (morta a socos e garrafadas pelo marido), vítimas de tentativa e morte por feminícidio: “Tanto que o nosso índice de feminicídio é gigantesco. Então ainda existe sim a questão do preconceito e do machismo de uma sociedade extremamente hipócrita, onde a mulher não tem a liberdade de colocar a roupa que ela quer. E ela não tem mesmo. Não mudou nada, a questão é que agora as pessoas disfarçam melhor, porque você sabe que não pode agredir uma mulher porque ela tem voz, então se ela resolver falar, o caldo engrossa”.

A AGRESSÃO

Geisy posa com o vestido rosa dez anos depois (Foto: Reprodução/Instagram)

Era uma quinta-feira e os universitários pretendiam emendar a aula com uma baladinha. Geisy diz que estava “vestida para matar” com a roupa comprada em uma liquidação. Mas o que devia ser apenas uma estudante usando o vestido que queria virou uma situação fora do controle, que acabou com ela feita refém na sala de aula da faculdade em São Paulo.

“Todo mundo meio que sofreu aquela agressão junto comigo, claro que eu era o foco, mas teve uma hora que a gente ficou preso na sala e os alunos começaram a pular e se pendurar para ver através de um vidro que era dois metros acima”, conta ela, que ainda parece ter nítidas na memória as imagens de rapazes tentando vê-la e agredi-la pelo vidro. "Na porta, eu lembro que foram encostadas cadeiras porque as pessoas estavam chutando e quebraram a fechadura para tentar entrar mesmo, então era uma coisa que, agora lembrando, era totalmente animal e irracional, agressiva ao ponto de você falar 'essas pessoas estão surtadas, estão loucas'. Uma pessoa em sã consciência não faria aquilo, e fizeram”.

O único homem que a defendeu: um professor chamado Rubens, que ela considera seu “anjo da guarda”: “O professor teve a ideia de rasgar folhas de caderno e colar nesses vidros. Então, meu professor tirou seu jaleco branco, me vestiu, me cobriu e eu saí escoltada por seis policiais. Até uma delegacia e depois para a minha casa”.

Geisy relata que não via o vestido como algo ofensivo e considera que foi “violada e agredida gratuitamente por milhares de alunos, sem motivo algum e sem direito à defesa”: “Eu sempre gostei de chamar atenção, sempre fui extremamente vaidosa, comunicativa, extrovertida - e isso desde criança. Naquele dia implicaram comigo, implicaram com a minha roupa que era um vestido rosa, o qual eu tinha comprado numa liquidação uma semana antes - a qual era o meu look novo, o meu look mais bafônico, aquela roupa que a gente conta as moedinhas para comprar porque a gente sabe que vai arrasar nela. Essa era a minha visão do vestido”.

Indenizada pela faculdade anos depois após uma briga na Justiça, ela diz que muitas vezes foi colocada como a responsável pela própria agressão e precisou dar provas do seu estilo de se vestir - e mostrar que, assim como vítimas de outros tipos de assédio e abuso, as roupas que usava não a incriminavam: “Fui muito julgada o tempo todo no começo e houve muita pergunta do tipo 'você sempre se veste assim?' e 'ah, mas essa roupa é normal pra você?', como se eu tivesse me vestido de ET e saído na rua. Então eu tinha que provar para as pessoas que, sim, me vestia daquela forma e, sim, eu era uma pessoa normal e, sim, eu não merecia o que aconteceu. Fui colocada como culpada muitas vezes, tive que provar judicialmente que era inocente. Fui a audiências, tive que comprar briga com muita gente para provar que realmente era vítima e demorei anos para provar isso, tanto que meu caso se encerrou quase cinco anos depois. Foi uma grande luta”.

Engajada com o feminismo desde o episódio, Geisy diz que não há como escapar de se posicionar e que quer continuar a usar sua história para impedir que outras mulheres passem pelo mesmo tipo de violência. "Eu particularmente acho que a mulher não quer ser feminista, ela meio que é obrigada a ser, é um instinto de defesa”, afirma. "Fui obrigada a assumir esse papel de feminista, o qual defendo e represento com muito orgulho para que outras mulheres não passassem o que passei. Hoje não tenho a mesma cabeça, mas essa vontade, essa garra de falar 'olha, eu não quero que ninguém passe por isso, não quero que ninguém seja chamada de puta por 3 mil pessoas sem ser, e se eu fosse?!'. O corpo é meu. As pessoas não poderiam me agredir, me chamar de puta num coro extremamente machista e nojento só porque elas acham que sou menor que elas, ou inferior a elas. Então, me sinto na obrigação de contar a minha história”.

Veja também!

>>> Bruna Griphao posa com biquíni cavado e ostenta barriga definidíssima

>>> Marina Ruy Barbosa sensualiza de lingerie branca e exibe barriga negativa

>>> Luísa Sonza faz topless ao posar só de calcinha e empina bumbum

Assista aos vídeos e inscreva-se no canal da RedeTV! no YouTube:

Recomendado para você


Comentários