14/11/2017 09:12:00 - Atualizado em 14/11/2017 10:33:00

Presidente da Alerj é levado para depor no Rio e filho é preso em MG

Redação/RedeTV! com ABr

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) (Foto: ABr)

A Polícia Federal cumpriu neste terça-feira (14) por volta das 8h um mandado de prisão coercitiva contra o deputado Jorge Picciani (PMDB), que é presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Assim que desembarcou no Aeroporto Santo Dumont, no Rio, ele foi levado por agentes para prestar depoimento na sede da PF.

O filho do deputado, Felipe Picciani, também foi preso no início desta manhã em Uberlândia, Minas Gerais, e deve responder por lavagem de dinheiro. Ele é gerente da Agrobilara, empresa da família de Picciani. A sede da empresa também é alvo de busca e apreensão da PF.

Pai e filho são alvos da operação "Cadeia Velha” deflagrada hoje pela PF e iniciada a pedido do Núcleo Criminal de Combate à Corrupção (Nccc) do próprio Ministério Público Federal (MPF). A ação é um desdobramento da Operação Ponto Final, decorrente da Lava Jato.

Na Operação Cadeia Velha, é apurado o uso da presidência e outros postos da Alerj para a prática de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Segundo as informações divulgadas, petição do MPF, com 232 páginas, resulta de investigações feitas há mais de seis meses, “que incluíram quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático, acordos de leniência e de colaboração premiada, além de provas obtidas a partir das Operações Calicute, Eficiência, Descontrole, Quinto do Ouro e Ponto Final”.

O MPF sustentou, junto ao Tribunal Regional Federal, que são “inafiançáveis os crimes dos deputados, que seguem em flagrante delito, sobretudo, de associação criminosa e lavagem de ativos, e que não é preciso a Alerj avaliar suas prisões.”

Os investigados com prisão preventiva decretada são os empresários Lélis Teixeira, Jacob Barata Filho e José Carlos Lavouras, investigados na Operação Ponto Final, além de Jorge Luiz Ribeiro, Carlos Cesar da Costa Pereira e Andreia Cardoso do Nascimento. Os presos temporários são Felipe Picciani, Ana Claudia Jaccoub, Marcia Rocha Schalcher de Almeida e Fabio Cardoso do Nascimento.

Os principais nomes da cúpula da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro, que congrega dez sindicatos de empresas de ônibus que atuam no transporte urbano, interurbano e de turismo e fretamento), Lélis Teixeira, José Carlos Lavouras e Jacob Barata Filho foram todos alvos da primeira fase da Operação Ponto Final, deflagrada em julho. Eles haviam sido libertados por liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Os procuradores regionais da República Andréa Bayão, Carlos Aguiar, Mônica de Ré, Neide Cardoso de Oliveira e Silvana Batini, do MPF na 2ª Região, que pediram o afastamento dos deputados das funções públicas, sustentam que está “havendo demonstração cabal de ilícitos gravíssimos e até mesmo alguns em estado de flagrância, à vista de sua natureza permanente, e que a liberdade dos referidos alvos implicaria perigo concreto à ordem pública”.

Em consequência, além da aplicação da lei penal, o MPF entende a necessidade “de que sejam deferidas prisões preventivas em desfavor dos deputados estaduais ora investigados.”

Sérgio Cabral integra organização

As informações do MPF indicam que as investigações apontaram que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, seu antecessor, Paulo Melo, e o segundo vice-presidente, Edson Albertassi, “formam uma organização integrada ainda pelo ex-governador Sérgio Cabral e que vem se estruturando de forma ininterrupta desde a década de 1990”.

A organização, como apurou o MPF, “vem adotando práticas financeiras clandestinas e sofisticadas para ocultar o produto da corrupção, que incluiu recursos federais e estaduais, além de repasses da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro”.

A petição do MPF está sendo embasada por três frentes de apuração. “Os repasses da Fetranspor para deputados; os recursos da Federação para uma conta de Cabral e sua partilha com Picciani e Melo; e as doações da construtora Odebrecht a políticos, depois declaradas em acordos de colaboração já homologados”.

O MPF identificou que a indicação de Albertassi, que vem sendo alvo de polêmica, para uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE) “pode ter sido uma manobra para que a organização criminosa retome espaços perdidos com os afastamentos de conselheiros determinados pelo Superior Tribunal de Justiça, e também uma forma de atrapalhar as investigações, ao deslocar a competência para a apuração dos fatos e tirar o caso do Tribunal Regional Federal”.

O MPF destacou ao TRF2 - que pela primeira conduz uma investigação ligada à Lava Jato – que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, com seus seis mandatos de presidente da Alerj, “é imprescindível na organização criminosa, pelo expressivo poder político e influência sobre outros órgãos estaduais”. Lembra, ainda, que as condutas de Picciani na Alerj incluíram a edição de atos normativos em troca de vantagem indevida e restrições ao funcionamento de CPIs.
Aumento de patrimônio

As informações do MPF ressaltam que tanto Picciani quanto Melo tiveram aumentos exponenciais de seu patrimônio desde o ingresso na política, aumentos
que em certos períodos chegaram a mais 100%, “patamar superior a qualquer investimento”.

“As investigações identificaram diversas relações societárias suspeitas mantidas pelos deputados, além do repasse clandestino de verbas de empresas para viabilizar a ocultação da origem do dinheiro e o financiamento de campanhas eleitorais”, diz a nota.

Cadeia Velha

O nome da operação (Cadeia Velha) decorre do presídio erguido no século XVII no local onde fica a sede da Alerj. O prédio era chamado oficialmente de Cadeia da Relação ou Casa da Relação. No Brasil Colonial, recebia presos políticos e quem mais desrespeitasse as leis da Coroa Portuguesa.

O prédio foi usado ainda como o antigo Tribunal da Relação, alojamento para a criadagem da Casa Real e foi cenário da prisão de Tiradentes e outros inconfidentes. Após 1822, a Cadeia Velha abrigou a Assembleia Geral Constituinte brasileira e, em maio de 1826, abrigou o primeiro Congresso Legislativo do país.

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