Lei Maria da Penha nunca conseguiu atender mulheres indígenas, diz deputada Célia Xakriabá
Redação RedeTV!Em entrevista ao “É Notícia”, a parlamentar também falou das mudanças climáticas
(Foto: Divulgação/ RedesTV!)
A primeira indígena eleita deputada federal por Minas Gerais, Célia Xakriabá (PSOL-MG), destacou que o Brasil vive um momento de violência contra as mulheres. A líder indígena é a entrevistada do “É Notícia”, desta quinta-feira (16).
Doutora em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Xakriabá citou os projetos que incluem a mulher indígena nas políticas públicas de combate à violência. “Protocolei um projeto de lei que trata do combate violência as mulheres indígenas e já dei um parecer favorável na nossa comissão de outro projeto para tornar o dia 5 de setembro o dia de combate da violência contra as mulheres indígenas. Acabei de relatar um PL que foi votado na Câmara, da deputada Juliana Cardoso (PT-SP), que altera o código penal. A Lei Maria da Penha nunca tinha conseguido atender mulheres indígenas!”, disse.
Em 2023, nos primeiros seis meses, o Brasil registrou 722 vítimas de feminicídio, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No ano passado, Minas Gerais foi o segundo estado com mais vítimas. A parlamentar comenta que não existem dados sobre a violência. “Se quer tem dados sobre a violência contra as mulheres indígenas (…) Nós estamos passando por um período de brutal feminicídio”.
Xakriabá critica o parlamento brasileiro em relação à desigualdade de gênero, que segundo ela, é o retrato dos Cabrais do Século XXI. “É um retrato desse Brasil conservador, que também é machista, que tem em seu pilar a questão da sociedade patriarcal.(…) Eu não quero me sentir sozinha no Congresso Nacional”, afirma a deputada.
Ao citar a falta de mulheres no Congresso Nacional, a líder indígena comentou o assassinato da vereadora Marielle Franco. “Não existe democracia ao tentar matar mulheres (…) Quando não tentam matar nossa voz, tentam matar nosso corpo. E Marielle não é somente uma voz na política brasileira, é uma palavra de resistência para retomar a verdadeira democracia. Dar resposta ao caso de Marielle é dar um conforto a família”, disse Xakriabá.
Na última segunda-feira (13), o presidente Lula afirmou que a Polícia Federal vai descobrir o mandante do assassinato de Marielle. Para a parlamentar, concluir o caso será uma resposta para as mulheres. “Esperamos justiça por Marielle para que muitas de nós não sejamos tombadas. É impossível pensar em uma democracia quando executam mulheres e quando incomoda nossa presença. É impossível pensar em uma democracia onde de 513 parlamentares apenas 91 são mulheres.”
Na semana em que as temperaturas atingiram recordes no país, e que a seca castiga a região Amazônica e o Pantanal, a deputada comentou sobre as medidas do Congresso em relação às mudanças climáticas. Na próxima quinta-feira (23), a Câmara dos Deputados e o Senado analisarão os vetos presidenciais, entre eles, o do marco temporal das terras indígenas.
Xakriabá destaca que é necessário consciência dos deputados em relação aos projetos de lei que envolvem o meio ambiente. “Eu penso que daqui a 10 anos, os parlamentares não vão conseguir usar ternos porque as mudanças climáticas não são somente um discurso, é algo factível, todo mundo pensava que era para daqui a 15 anos e está acontecendo agora!”, ressaltou.
Durante a gestão de Jair Bolsonaro, 6 milhões de hectares, o que equivale ao tamanho de um estado do Rio e meio, foram desmatados, de acordo com o MapBiomas. No governo marcado por medidas que prejudicaram os povos indígenas e o meio ambiente, Bolsonaro foi classificado por Xakriabá como um exterminador. “Projeto de destruição. Se fosse um filme, seria o ‘Exterminador do Futuro’”, comentou.
O ‘É Notícia’ é exibido às quintas-feiras, às 23h45, na RedeTV!
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