O que a guerra entre Irã e Israel afeta na economia brasileira?
Ana Souza / Redação RedeTVAgro sente os impactos da guerra: fertilizantes mais caros e exportações ameaçadas
(Foto: Freepik)
A guerra entre Israel e Irã, que chegou ao quinto dia nesta terça-feira (17), já provoca impactos que vão além da esfera geopolítica. O conflito tem gerado instabilidade nos mercados internacionais e acende um sinal de alerta para o agronegócio brasileiro. Caso a guerra se prolongue ou se intensifique, os custos de produção agrícola no Brasil devem subir de maneira significativa. As informações são da Gazeta do Povo.
Entre as principais preocupações está o fornecimento de ureia, um dos fertilizantes à base de nitrogênio mais utilizados na agricultura. O Irã é um dos maiores exportadores globais desse insumo e tem papel relevante no abastecimento brasileiro. Em 2024, cerca de 19% da ureia importada pelo Brasil veio do Irã — aproximadamente 1,6 milhão de toneladas, segundo dados da consultoria Argus.
“Esse aspecto é particularmente sensível porque estamos em um período em que nem todos os insumos da safra 2025/26 foram adquiridos”, afirma o economista Felippe Serigati, coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio do FGVAgro. “Dependendo da situação, é bastante razoável que o pessoal antecipe as compras dos fertilizantes que vão ser utilizados na safrinha de 2026.”
Além da alta nos preços, Serigati aponta riscos no abastecimento: “É possível haver uma dificuldade de haver abastecimento total de ureia para todo o país.”
A instabilidade no mercado global já impacta os preços do fertilizante. Na quinta-feira (12), a tonelada da ureia importada estava cotada a US$ 398. No dia seguinte, com a intensificação do conflito, o preço subiu para US$ 430. Na segunda-feira (16), a cotação média chegou a US$ 435, acumulando alta de 9,3% desde o início da guerra.
Renata Cardarelli, especialista em agricultura e fertilizantes da Argus, afirma que “as incertezas com relação à disponibilidade global do nitrogenado e a potencial restrição na oferta já fizeram muitos participantes se retirarem do mercado físico”.
O Oriente Médio responde por cerca de 20 milhões de toneladas anuais de exportação de ureia, com o Irã representando 25% desse volume. A produção iraniana é estimada em cerca de 9 milhões de toneladas por ano.
Outros fertilizantes também podem ser afetados
Embora o impacto seja menor, o Brasil também importa cloreto de potássio de Israel. Em 2024, o país foi o quarto maior fornecedor desse tipo de fertilizante ao Brasil, com 1 milhão de toneladas embarcadas. “Mesmo quando teve início o conflito israelense com o Hamas, em outubro de 2023, que poderia provocar algum problema para acessar os portos do país via Mediterrâneo, não tivemos grandes problemas”, diz Serigati.
Exportações de milho ameaçadas
Na outra ponta do comércio, o Irã é um dos principais compradores do milho brasileiro. Em 2024, o país importou 4,3 milhões de toneladas do grão, representando cerca de 10% do total exportado pelo Brasil — o equivalente a US$ 918,4 milhões. “Não acho que vá alterar o preço, porque a gente não tem muita folga nesse mercado por causa da demanda interna de milho para ração e para a produção de etanol”, observa Serigati. “Mas um trader que tenha um contrato com o Irã como destino pode ter dor de cabeça.”
Petróleo em alta pressiona custos agrícolas
O aumento no preço do petróleo é outro efeito da guerra que afeta diretamente a agricultura. O barril do Brent saltou de US$ 69,36 para US$ 74,75 (+7,77%) em um único dia após o início do conflito. Na segunda-feira (16), os preços recuaram diante de rumores sobre negociações entre Irã e Estados Unidos.
Segundo Serigati, o preço do diesel impacta diretamente os custos com maquinário agrícola, e produtos concorrentes de derivados do petróleo, como o algodão, também tendem a se valorizar. “Se a fibra sintética fica menos competitiva, por exemplo, isso tende a puxar o preço do algodão para cima.”
Além disso, o frete rodoviário e marítimo tende a encarecer. A possibilidade de desvio de rotas — especialmente caso o Irã bloqueie o Estreito de Ormuz — pressiona o custo do transporte global. Cerca de 20 milhões de barris de petróleo passam diariamente por essa faixa de água, estratégica para o fornecimento mundial de energia.
Serigati destaca que o impacto vai além do combustível: “Não é nem uma questão de combustível, mas o mercado de frete ter de se reorganizar tem efeitos para todo mundo.”
Inflação nos alimentos ainda é incerta
Apesar da alta nos custos de produção, ainda não é possível prever com exatidão o impacto no preço final dos alimentos. “A gente passou por uma guerra na Ucrânia que jogou o preço do fertilizante lá em cima, houve um esforço monumental para trazer cloreto de potássio e nitrogenados de onde era possível, inclusive do Irã. E fizemos uma supersafra em 2023”, lembra Serigati.
Câmbio estável reduz tensão, por ora
O dólar segue relativamente estável, mesmo com a guerra no Oriente Médio. “Se o pessoal perceber que, apesar do risco, a coisa não vá escalar nos próximos seis meses, vão olhar antes para os nossos juros reais, que estão rodando próximo de 9%”, afirma o economista. Na segunda-feira (16), o dólar encerrou o pregão cotado a R$ 5,487, o menor patamar de fechamento desde 7 de outubro do ano anterior.
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