13/12/2011 09:03:00 - Atualizado em 13/12/2011 11:12:00

A humilhação pública das mulheres em Israel

Guila Flint, de Tel Aviv
A imprensa e ONGs de direitos humanos alertam para um fenômeno crescente de segregação das mulheres em Israel, em consequência da imposição de grupos ultraortodoxos, que defendem a separação dos sexos em lugares públicos.

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No país, há 70 linhas de ônibus nas quais as mulheres devem ocupar a parte traseira e os homens a parte dianteira. São ônibus que circularm principalmente em cidades com grandes concentrações de religiosos, como Jerusalém, Beit Shemesh e Elad. Mulheres seculares que entraram nesses ônibus e se sentaram na parte dianteira foram insultadas e, muitas vezes, sofreram agressões fisicas.

Esse é apenas um exemplo da segregação e humilhação crescentes das mulheres no espaço público do país.
Em consequência da pressão dos ultraortodoxos, as mulheres também desapareceram dos cartazes de propaganda em Jerusalém. Em nome da "modéstia" e da "decência", grupos de ativistas religiosos destruíram, durante anos, os outdoors e até pontos de ônibus com propagandas mostrando imagens de mulheres, até que os donos das empresas publicitárias pararam de divulgar cartazes com fotos femininas.



Voz "obscena": israelenses religiosas são proibidas de cantar em público

Atualmente, a situação chegou a tal ponto que se vê propagandas de moda feminina em Jerusalém sem imagens de mulheres. Outro preceito religioso que está sendo imposto com mais frequência é a proibição do canto da mulher em público. Segundo preceitos ultraortodoxos, a voz da mulher é "obscena" e uma mulher só pode cantar dentro de sua própria casa. Famílias ultraortodoxas não costumam ouvir música com mulheres cantando.

Recentemente um grupo de soldados religiosos se retirou de uma cerimônia militar quando soldadas subiram ao palco para cantar. O fato despertou choque em Israel, pois revelou que os preceitos de segregação estão se infiltrando até no Exército, considerado uma instituição secular. A saída dos soldados da cerimônia também demonstrou que esses costumes se expandiram não só entre ultraortodoxos como também entre os religiosos que seguem a linha religiosa-nacionalista, considerada mais "moderna".

O rabino Eliakim Levanon, um dos lideres espirituais da corrente religiosa-nacionalista, declarou que "é preferível enfrentar um pelotão de fuzilamento do que ouvir mulheres cantando". Existem estações religiosas de rádio que levam a proibição ainda mais longe. Elas não só evitam transmitir o canto de mulheres, mas também não entrevistam mulher alguma em seus programas para que a própria voz da mulher, mesmo falando, não seja ouvida.  O rabino-chefe da cidade de Holon, Avraham Yosef, declarou que mulheres não devem dirigir carros em bairros religiosos. "Uma mulher dirigindo é um ato indecente", afirmou o rabino, que é um funcionário público e recebe seu salário do Estado.



A seita das "mulheres-talebã": elas cobrem o corpo para ajudar a "salvar o povo"

Uma seita de mulheres religiosas levou a ocultação da mulher até as últimas consequências. As mulheres adotaram o costume de andar cobertas da cabeça aos pés, "para não se tornarem uma tentação para os homens" e  são chamadas de "mulheres-talebã". Elas acreditam que, se cobrindo totalmente, estariam contribuindo para a "salvação do povo de Israel". Rabinos ultraortodoxos disseram que essas mulheres "foram longe demais".

De acordo com analistas já há mais de mil integrantes da seita, também denominada "mulheres dos xales" em Israel, principalmente nas cidades de Jerusalém, Beit Shemesh e Elad. Em bairros ultraortodoxos, já se pratica a separação entre mulheres e homens em calçadas, clinicas médicas e bancos.

O presidente de Israel, Shimon Peres, que é secular, se manifestou contra o fenômeno. "Como judeu e como presidente não posso ignorar esse tipo de fenômeno, não haverá discriminação contra a mulher no espaço público de Israel", disse Peres.

O governo resolveu nomear uma comissão para discutir o problema da segregação crescente das mulheres.
Porém, pode ser que os lideres politicos se lembraram tarde demais, o fenômeno já se expandiu amplamente no país e se enraizou profundamente em diversos setores da sociedade.

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