11/01/2019 00:50:00 - Atualizado em 11/01/2019 22:31:00

Crítica: 'Homem-Aranha no Aranhaverso' renova protagonismo e se torna o melhor filme do herói

Arthur Henrique - Redação/RedeTV!


'Homem-Aranha no Aranhaverso está em cartaz nos cinemas em todo o Brasil - (Sony/Columbia/Divulgação)

O cinema atual é protagonizado pelo que é chamado por muitos da "Era de Ouro dos Super-Heróis". Desde o começo dos anos 2000, estúdios de cinema como Disney, Fox, Sony e Warner Bros. trazem às telonas ano após ano filmes dos personagens que marcaram época nos quadrinhos e/ou em desenhos animados. Mesmo com recordes em público e nas bilheterias, a fórmula concreta do monomito (às vezes chamado de "Jornada do Herói") começa a apresentar sinais de saturação.

No entanto, alguns longas recentemente resolveram ousar no status quo do gênero e alcançaram ótimos resultados com os espectadores, faturamento e (especialmente) com a crítica. Pantera Negra, no começo de 2018, trouxe um herói da Marvel pouco conhecido para o cinema e se tornou sucesso ao abordar inclusão racial e um vasto contexto político. Um ano antes, Mulher-Maravilha foi a aposta da DC Comics ao trazer pela primeira vez uma história solo de uma heróina. Homem-Aranha: no Aranhaverso, que estreiou no Brasil nessa quinta-feira (10) segue a mesma linha, trazendo renovação não somente ao aclamado personagem, mas também em diversos aspectos.


'Homem-Aranha no Aranhaverso' estreou nessa quinta-feira (10) nos cinemas do País - 
(Sony/Columbia/Divulgação)

No gênero dos super-heróis, animações não são muito bem vistas no cinema, sendo de costume lançadas direto em DVD/Blu-Ray. No entanto, a nova história de um dos heróis mais queridos da Marvel muda isso ao apostar em elementos estéticos que fogem do padrão 3D realista já conhecido, trazendo um visual pop-art que lembra muito mais os HQ's e desenhos animados. Ao longo do filme, textos e "balões" de quadrinhos surgem na tela para expressar sentimentos e pensamentos do jovem protagonista que, dessa vez, não é o conhecido Peter Parker. 

E é essa a característica mais importante de 'Aranhaverso': um novo Homem-Aranha, porém agora na pele de Miles Morales (Shameik Moore), um adolescente filho de uma imigrante latino-americana e de um americano negro. Mesmo sendo popular em seu bairro, o garoto encarna a personalidade nerd na escola particular onde estuda e se sente deslocado por achar o colégio "elitista demais". Miles também conta com a presença de duas figuras masculinas de referência totalmente diferentes uma da outra: o seu pai policial (Brian Tyree Henry) e seu tio (Mahershala Ali, vencedor do Oscar por Moonlight). Estes são responsáveis por causar o sentimento de indecisão no protagonista, sobre qual caminho seguir e pelo o quê lutar.


'Homem-Aranha no Aranhaverso' traz Miles Morales como protagonista - (Sony/Columbia/Divulgação)

Para fãs mais fervorosos ou saudosistas, será um pouco difícil aceitar que Miles Morales é o novo Homem-Aranha. Contudo, a ideia do filme é simplesmente aceitar que "mais de um pode vestir a máscara". Mesmo com o novo personagem principal, Peter Parker marca presença no filme (em duas versões) e tem seu legado honrado em todos os 116 minutos da trama. Por abordar a teoria de que existe mais de um universo (e por consequência, mais de um 'Homem-Aranha'), uma equipe é formada pelas diferentes versões do herói no multiverso para impedir que o Rei do Crime (Liev Schreiber) destrua o Brooklyn. 

Junto a Miles, estão dois Peters Parkers (um da dimensão de Miles e outro mais velho, que passa por diversas crises), uma Mulher-Aranha (a Spider-Gwen das HQs), um pitoresco Porco-Aranha, uma jovem japonesa com um robô-aranha (que é controlado por uma aranha de verdade) e um Homem-Aranha dos anos 1930, com um visual noir. Todas essas versões, de fato, existem nos quadrinhos da Marvel.

Mas apesar de vermos diversos 'Homens-Aranhas', Miles Morales é o personagem principal da história. Inseguro sobre suas expectativas, o adolescente renova o aclamado herói ao trazê-lo para uma geração mais atual, conversando com o público da sua idade. Mesmo assim, suas incertezas e problemas pessoais causam a empatia necessária para que o filme entre em um contexto famliar agradável, fazendo com que as lições ensinadas atinjam pais, mães e filhos.

E o que faz o desenho da Sony ser uma das melhores animações do ano, vencedora do Globo de Ouro e forte concorrente à categoria no Oscar é o seu roteiro eficiente, que entrega tudo aquilo que propõe, além de lutas bem coreografadas e fotografia excepcional, graças ao traço CGI diferenciado. Tudo funciona para uma trama que traz contextos mais próximos ao nosso cotidiano, inclusive as motivações do vilão da trama que, ao invés querer simplesmente "conquistar o mundo", que trazer de volta algo importante que perdeu de sua vida.

Por ser animação, 'Homem-Aranha no Aranhaverso' é repleto de diálogos hilários e cenas de ação que somente filmes de super-herói podem proporcionar. Mesmo assim, o filme tem personalidade, alternando de forma natural entre momentos emocionalmente carregados para o protagonista refletir e entre atitudes para o seu "eu dentro da máscara" agir, jogando fora uma das manias do gênero de que "precisa ser tomado um passo de cada vez"


Peter Parker já é um veterano em 'Homem-Aranha no Aranhaverso' e age como tutor de Miles - (Sony/Columbia/Divulgação)

A direção do longa atual de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman homenageia estrategicamente a trilogia de Sam Raimi, estrelada por Tobey Maguire. Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora da animação e suas músicas originais. A canção 'Sunflower' de Post Malone é essencial para o filme, assim como as diferenças de arranjo entre um Aranha e outro. Enquanto Peter é movido por um orquestral, Miles é seguido em suas cenas por fortes batidas de hip-hop e eletrônica.

Sem sombra de dúvidas, “Aranhaverso” é o melhor filme do herói da Marvel desde “Homem-Aranha 2” (2004). A renovação do protagonista e das história do "teioso" são feitas sem pressa, mas também sem se delongar nas explicações, proporcionando ao longa a ousadia necessária para cativar o público. O lema "com grandes poderes, vem grandes responsabilidades" se faz presente e a animação acerta em cheio, abrindo possibilidades para expandir muito mais o universo (ou universos) mostrados.

FICHA TÉCNICA:

'Homem-Aranha no Aranhaverso'
Ano: 2018
Classificação: 12 anos
Duração: 1h56 min
Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Nicolas Cage
Música: Daniel Pemberton
Produtores: Avi Arad, Amy Pascal, Phil Lord, Christopher Miller e Christina Steinberg
Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman

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