Crítica: 'Homem-Aranha no Aranhaverso' renova protagonismo e se torna o melhor filme do herói
Arthur Henrique - Redação/RedeTV!
'Homem-Aranha no Aranhaverso está em cartaz nos cinemas em todo o Brasil - (Sony/Columbia/Divulgação)
O cinema atual é protagonizado pelo que é chamado por muitos da "Era de Ouro dos Super-Heróis". Desde o começo dos anos 2000, estúdios de cinema como Disney, Fox, Sony e Warner Bros. trazem às telonas ano após ano filmes dos personagens que marcaram época nos quadrinhos e/ou em desenhos animados. Mesmo com recordes em público e nas bilheterias, a fórmula concreta do monomito (às vezes chamado de "Jornada do Herói") começa a apresentar sinais de saturação.
No entanto, alguns longas recentemente resolveram ousar no status quo do gênero e alcançaram ótimos resultados com os espectadores, faturamento e (especialmente) com a crítica. Pantera Negra, no começo de 2018, trouxe um herói da Marvel pouco conhecido para o cinema e se tornou sucesso ao abordar inclusão racial e um vasto contexto político. Um ano antes, Mulher-Maravilha foi a aposta da DC Comics ao trazer pela primeira vez uma história solo de uma heróina. Homem-Aranha: no Aranhaverso, que estreiou no Brasil nessa quinta-feira (10) segue a mesma linha, trazendo renovação não somente ao aclamado personagem, mas também em diversos aspectos.
'Homem-Aranha no Aranhaverso' estreou nessa quinta-feira (10) nos cinemas do País - (Sony/Columbia/Divulgação)
No gênero dos super-heróis, animações não são muito bem vistas no cinema, sendo de costume lançadas direto em DVD/Blu-Ray. No entanto, a nova história de um dos heróis mais queridos da Marvel muda isso ao apostar em elementos estéticos que fogem do padrão 3D realista já conhecido, trazendo um visual pop-art que lembra muito mais os HQ's e desenhos animados. Ao longo do filme, textos e "balões" de quadrinhos surgem na tela para expressar sentimentos e pensamentos do jovem protagonista que, dessa vez, não é o conhecido Peter Parker.
E é essa a característica mais importante de 'Aranhaverso': um novo Homem-Aranha, porém agora na pele de Miles Morales (Shameik Moore), um adolescente filho de uma imigrante latino-americana e de um americano negro. Mesmo sendo popular em seu bairro, o garoto encarna a personalidade nerd na escola particular onde estuda e se sente deslocado por achar o colégio "elitista demais". Miles também conta com a presença de duas figuras masculinas de referência totalmente diferentes uma da outra: o seu pai policial (Brian Tyree Henry) e seu tio (Mahershala Ali, vencedor do Oscar por Moonlight). Estes são responsáveis por causar o sentimento de indecisão no protagonista, sobre qual caminho seguir e pelo o quê lutar.
'Homem-Aranha no Aranhaverso' traz Miles Morales como protagonista - (Sony/Columbia/Divulgação)
Para fãs mais fervorosos ou saudosistas, será um pouco difícil aceitar que Miles Morales é o novo Homem-Aranha. Contudo, a ideia do filme é simplesmente aceitar que "mais de um pode vestir a máscara". Mesmo com o novo personagem principal, Peter Parker marca presença no filme (em duas versões) e tem seu legado honrado em todos os 116 minutos da trama. Por abordar a teoria de que existe mais de um universo (e por consequência, mais de um 'Homem-Aranha'), uma equipe é formada pelas diferentes versões do herói no multiverso para impedir que o Rei do Crime (Liev Schreiber) destrua o Brooklyn.
Junto a Miles, estão dois Peters Parkers (um da dimensão de Miles e outro mais velho, que passa por diversas crises), uma Mulher-Aranha (a Spider-Gwen das HQs), um pitoresco Porco-Aranha, uma jovem japonesa com um robô-aranha (que é controlado por uma aranha de verdade) e um Homem-Aranha dos anos 1930, com um visual noir. Todas essas versões, de fato, existem nos quadrinhos da Marvel.
Mas apesar de vermos diversos 'Homens-Aranhas', Miles Morales é o personagem principal da história. Inseguro sobre suas expectativas, o adolescente renova o aclamado herói ao trazê-lo para uma geração mais atual, conversando com o público da sua idade. Mesmo assim, suas incertezas e problemas pessoais causam a empatia necessária para que o filme entre em um contexto famliar agradável, fazendo com que as lições ensinadas atinjam pais, mães e filhos.
Por ser animação, 'Homem-Aranha no Aranhaverso' é repleto de diálogos hilários e cenas de ação que somente filmes de super-herói podem proporcionar. Mesmo assim, o filme tem personalidade, alternando de forma natural entre momentos emocionalmente carregados para o protagonista refletir e entre atitudes para o seu "eu dentro da máscara" agir, jogando fora uma das manias do gênero de que "precisa ser tomado um passo de cada vez"
Peter Parker já é um veterano em 'Homem-Aranha no Aranhaverso' e age como tutor de Miles - (Sony/Columbia/Divulgação)
A direção do longa atual de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman homenageia estrategicamente a trilogia de Sam Raimi, estrelada por Tobey Maguire. Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora da animação e suas músicas originais. A canção 'Sunflower' de Post Malone é essencial para o filme, assim como as diferenças de arranjo entre um Aranha e outro. Enquanto Peter é movido por um orquestral, Miles é seguido em suas cenas por fortes batidas de hip-hop e eletrônica.
Sem sombra de dúvidas, “Aranhaverso” é o melhor filme do herói da Marvel desde “Homem-Aranha 2” (2004). A renovação do protagonista e das história do "teioso" são feitas sem pressa, mas também sem se delongar nas explicações, proporcionando ao longa a ousadia necessária para cativar o público. O lema "com grandes poderes, vem grandes responsabilidades" se faz presente e a animação acerta em cheio, abrindo possibilidades para expandir muito mais o universo (ou universos) mostrados.
FICHA TÉCNICA:
'Homem-Aranha no Aranhaverso'
Ano: 2018
Classificação: 12 anos
Duração: 1h56 min
Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Nicolas Cage
Música: Daniel Pemberton
Produtores: Avi Arad, Amy Pascal, Phil Lord, Christopher Miller e Christina Steinberg
Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman