06/08/2015 07:18:00 - Atualizado em 06/08/2015 10:00:00

QI acima da média é sinônimo de sucesso profissional?

Sara Oliveira/RedeTV!

  Menina de 12 anos superou Einstein e Hawking no teste de QI  (Foto: Reprodução/Mirror)

O caso de Nicole Barr, uma menina de 12 anos que obteve o resultado de 162 em um tradicional teste de QI (quociente intelectual) - dois pontos acima de dois grandes cientistas de diferentes épocas, Albert Einstein e Stephen Hawking - chamou a atenção do mundo nesta semana. A estudante, que vive em uma comunidade nômade, foi bastante elogiada pelos professores e até mesmo chamada de gênio pela imprensa britânica.

A reação levanta duas questão: basta QI alto para ter sucesso na vida? E ainda: considerando que o processos de aprendizagem e interesses se manifestam de diferentes formas, seria possível um teste padrão avaliar a 'genialidade' de alguém?

O teste que avalia o quociente intelectual foi inspirado por um exame criado por Alfred Binet, em 1900, para dar uma estimativa da habilidade cognitiva de crianças ao longo da infância, e assim identificar suas habilidades e deficiências a fim de dar auxílio, caso seja necessário. 

Nicole teria a mesma capacidade intelectual de grandes cientistas (Foto: Reprodução/Mirror/Reprodução)

O QI médio para a população é 100, enquanto 140 já é uma pontuação considerada bem acima do normal - o que torna o caso de Nicole fora do comum, mas não o único. Personalidades como Steve Jobs, Bill Gates, Madonna, Shakira, Sharon Stone, Quentin Tarantino e Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor, também tiveram notas altas no teste. No entanto, o resultado não significa, necessariamente, que exista um ‘futuro brilhante’ reservado para esse 'gênio'. 

“Acho que todos se depararam alguma vez na vida com pessoas muito inteligentes, mas que não deram certo nem profissional nem socialmente por não terem 'inteligência emocional'", afirma a a psicóloga Regiane Esposito, especialista em Psicopedagogia, Psicodrama e Neuropsicologia, e que trabalha há mais de 20 anos com crianças, jovens e adultos com Deficiência Intelectual.

Em casos como o de Nicole, a psicóloga diz acreditar que o rótulo recebido pelo resultado não irá acrescentar em nada nesta fase da vida. “Gênio é aquele que traz no decorrer de sua história um 'salto' de conhecimento que favorece toda a humanidade. Vamos ver como será a história dessa garota”, comenta. “O importante é que ela tenha um bom desenvolvimento em todas as áreas da vida e seja feliz”, acrescenta.

Como funciona

O teste psicrométrico, que identifica o QI, estipula, entre outras coisas, a capacidade cognitiva geral de uma pessoa. A média da população é de 110  “Os testes mais comuns utilizados pelos psicólogos são compostos de algumas provas verbais e algumas de execução. Não há a expectativa de "provar" alguma coisa”, afirma Regiane.

Regiane explica que as avaliações, que não são nacionais, foram padronizadas para o uso com o povo brasileiro, mas que, geralmente, só é aplicado em alguns casos.

“Seu uso é indicado normalmente quando não está ocorrendo uma adaptação adequada ao conteúdo escolar, seja pelo fato da criança ou adolescente não conseguir acompanhar o programa pedagógico ou demonstrar extrema facilidade de assimilação, podendo nesse caso, ocorrer um desinteresse pela escola”, esclarece a psicóloga. “Há ainda indicação para sua aplicação quando há suspeita de déficit cognitivo ocasionado por demência ou outras doenças neurológicas”.

O psicólogo Rodolfo Ambiel, especialista em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco, explica que o teste é um processo sistemático que pode demonstrar em quais áreas a pessoas tem mais facilidade ou dificuldade. "É possível compreender que uma pessoa pode ter alta habilidade de lidar com números, mas uma habilidade menor de lidar com palavras, por exemplo, ou vice-versa".

Ele destaca que outros fatores podem estar por trás da 'genialidade'. "O meio ambiente e o aspecto social têm um peso bastante relevante. Por exemplo, os anos de escolaridade de uma pessoa tendem a influenciar diretamente seu desenvolvimento cognitivo", explica". "Também a exposição a ambientes ricos em recursos como, por exemplo, disponibilidade de livros, em geral ajudam bastante no desenvolvimento das crianças".

Gênio da internet

A avaliação pode ser aplicada somente por psicólogos, e é fruto de pesquisas e padronizações – o que, segundo Regiane, invalida os resultados de testes disponíveis na internet, que não passaram por nenhum estudo.

Já Ambiel alerta que é preciso ter muito cuidado com os testes encontrados na internet. “Na grande maioria das vezes, os testes de internet que prometem avaliar o QI das pessoas não passa de uma brincadeira feita por pessoas que não tem a menor ideia do que seja psicologia, avaliação psicológica e mesmo o QI. Em geral, testes online são de senso comum, não tem qualquer base conceitual ou científica que sustente as interpretações que sugere”.

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