12/09/2019 16:49:00 - Atualizado em 12/09/2019 16:56:00

Procurador do 'miserê' diz que está sendo vítima de "linchamento moral"

Redação/RedeTV!

Leonardo Azeredo dos Santos está afastado do cargo

(Foto: Reprodução/Facebook)

O procurador Leonardo Azeredo dos Santos, que ganhou repercussão após a divulgação de um áudio em que chama seu salário de R$ 24 mil mensais de “miserê”, emitiu um comunicado nesta quinta-feira (12).

No texto, o procurador diz que está sofrendo um “linchamento moral” e ainda afirma que em nenhum momento quis comparar sua realidade com a de outros brasileiros. 

“Comparei, e os números não mentem, a situação atual de nossa classe que, com o término do pagamento de verbas em atraso, passará por uma significativa supressão remuneratória”, diz um trecho da nota.

Nos últimos dias, o nome do procurador passou a repercutir devido à declaração considerada polêmica. Ele chegou a tirar licença médica do Ministério Público e está afastado.

O procurador, que atua em Minas Gerais, teve um desabafo gravado pelo próprio Ministério Público durante a reunião para discutir o orçamento de 2020.

Em um trecho, ele chega a questionar: "Como é que o cara vai viver com R$ 24 mil?". E se revolta: "Estou fazendo a minha parte, estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e estou passando a gastar R$ 8 mil pra poder viver com meus R$ 24 mil".

Entenda

A indignação do procurador teria começado ao saber que o benefício que ele recebe não terá reajuste. Só que o valor da remuneração que ele chama de "miserê", pode chegar a quase 80 mil reais por mês

De acordo com o RedeTV News, dados do Portal da Transparência mostram que o procurador realmente ganha R$ 24 mil líquidos por mês. Mas de janeiro a julho, ele recebeu indenizações e outras remunerações em todos esses meses. O menor valor foi de R$ 48 mil. Já o maior vencimento, em junho, chegou a quase R$ 80 mil, incluindo os descontos.

Em nota, o Ministério Público de MG informou que em função da grave crise financeira do estado não há nenhum projeto que prevê novos benefícios para procuradores, promotores, nem servidores.

Na terça-feira (10), Santos já não havia aparecido para trabalhar e alegou estar sob efeito de medicamentos para depressão.

Ouça as declarações:

Confira a íntegra da nota divulgada pelo procurador:

"Exmo. Sr. Procurador-Geral de Justiça,

Doutor ANTÔNIO SÉRGIO TONET,

Dirijo-me a Vossa Excelência, muito respeitosamente, a propósito das repercussões havidas na imprensa a partir de manifestação oral por mim produzida, no âmbito da reunião da Egrégia Câmara de Procuradores de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, quando da discussão da proposta orçamentária institucional para o próximo ano, a fim de oferecer, não só a Vossa Excelência, mas a todos os pares e, sobretudo e em primeiro lugar, ao povo mineiro, os seguintes esclarecimentos:

Sou membro do Ministério Público do Estado de Minas Gerais há quase trinta anos, exercendo as minhas nobres funções com muito orgulho, satisfação e dedicação, vocacionado que sou para as atribuições que a Constituição Federal conferiu à Instituição.

Tenho procurado manter-me fiel aos ideais democráticos que regem a atuação ministerial, sempre respeitando a pluralidade que permeia a nossa sociedade, ouvindo atentamente os seus anseios e clamores por justiça.

Não tenho outra razão de ser em minha atividade funcional que não a de zelar pelos interesses de todos os mineiros, fazer cumprir a lei e valer os princípios republicanos da impessoalidade, eficiência e transparência.

Após a veiculação do áudio da última reunião pública do nosso Órgão Colegiado maior, inúmeras reações negativas tomaram conta das redes sociais e da imprensa em geral. Na oportunidade, deixo claro que, em nenhum momento, tive eu a pretensão de fazer qualquer comparação entre a minha realidade de vida e de remuneração e a luta brutal que a maioria dos meus concidadãos enfrenta, pela sua sobrevivência cotidiana. Longe de mim. Não ignoro as dificuldades dos outros, tampouco tripudio das agruras dos menos aquinhoados. É óbvio que não. Comparei, e os números não mentem, a situação atual de nossa classe que, com o término do pagamento de verbas em atraso, passará por uma significativa supressão remuneratória. Daí a se pensar que eu seja um louco insensível, ou que desconheça a situação precária das contas de Minas, vai uma distância abissal.

Lamento, de todo modo, o mal entendido e os transtornos causados, os quais sequer imaginara ao manifestar-me dentro de casa, o Ministério Público, no Órgão Colegiado, presidido por Vossa Excelência e composto pelo nobre Corregedor-Geral do Ministério Público e outros dezenove colegas, Procuradores de Justiça, além deste subcritor, espaço sagrado, infenso a censuras de qualquer espécie; ao contrário, foro adequado à discussão e ao debate livre das matérias ali postas em apreciação, mesmo que em tom de desabafo.

Deploro, finalmente, sirva o episódio em questão para alimentar as ofensas que os detratores do Ministério Público e da liberdade, oportunistas de ocasião, insistem em lhes assacar.

Repudio, ainda, a minha execração pública, os ataques, ofensas e perseguições que ora me vitimam, num linchamento moral de todo impróprio a uma sociedade madura, haja vista a ausência de qualquer espécie de ilegalidade em meu comportamento.

Sendo o que me cabia dizer, e sempre à disposição de Vossa Excelência, peço-lhe a fineza de fazer, caso julgue conveniente, a divulgação desses esclarecimentos meus a todos os possíveis interessados.

Grato, despeço-me muito cordialmente.

LEONARDO AZEREDO DOS SANTOS

PROCURADOR DE JUSTIÇA"

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