10/12/2018 18:15:00 - Atualizado em 10/12/2018 20:58:00

"João de Deus obrigou grávida a transar com ele sob ameaça dela perder o bebê", diz ativista que denunciou o médium

Andressa Gonçalves/RedeTV!

Acusações de assédio sexual contra o médium João de Deus tomaram conta da imprensa nacional e internacional na última semana.

Ao menos 10 mulheres denunciaram ao "Programa do Bial", da Rede Globo, e ao jornal "O Globo", terem sido abusadas por João de Deus durante atendimento espiritual na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). O médium é mundialmente conhecido por ter curado centenas de pessoas. 

Uma das responsáveis por receber essas denúncias foi a ativista brasileira Sabrina de Campos Bittencourt, que conversou com exclusividade com o RedeTV News e com o portal da RedeTV!

Sabrina conta que dentre as diversas denúncias que recebeu nos últimos dias, algumas chamaram mais sua atenção. Uma delas é de uma garota que entrou em contato com a ativista pelo Facebook através do computador da prima, e contou que o pai a obriga a fazer trabalhos sexuais com João de Deus desde os 13 anos. A mãe da jovem também trabalha na Casa de Dom Inácio, e o pai, no fim do mês, vai até o médium receber o pagamento pelos serviços.

Outra história marcante foi a de uma grávida que procurou o centro espírita pois estava com uma gravidez de risco. João de Deus obrigou-a a fazer sexo com ele pois, caso contrário, ela perderia o bebê. "É claro que ela aceitou. O que ela poderia fazer nessa situação?", disse Sabrina. 

Na opinião de Sabrina, o comportamento de João de Deus pode ser considerado como de um psicopata. A ativista afirma que, de acordo com os relatos, em cada sessão de atendimento ele escolhe uma "vítima" e manda seus funcionários colocá-la no fim da fila. Quando chega a vez da "escolhida", ele a leva para uma sala anexada ao salão principal, e neste momento que as vítimas apontam que ocorrem os assédios.

A ativista classifica os assédios descritos em categorias A e B. As mulheres que são mais tímidas, mais quietas ou submissas, ele tentaria convencer de que são especiais, que foram casadas na vida passada e que com a cura espiritual ela terá papel de destaque na casa espírita. Segundo as denunciantes ouvidas por Sabrina, João de Deus as coloca de costas, manda fechar os olhos, e começa a passar a mão na lateral do corpo. Em seguida, ele abre a própria calça, coloca o órgão genital para fora e faz a mulher tocá-lo. "Ele chega a dizer para ela 'fazer direito'", diz a ativista. Com outras mulheres João teria obrigado elas a fazerem sexo oral ou anal com ele.

Na categoria B, a ativista coloca as mulheres que são mais comunicativas e ativas, as quais João teria mais medo de ser denunciado. "Com essas ele diz que vai alinhar os chacras", explica Sabrina. 

As mulheres ainda contaram à ativista que as pessoas com quem o médium não tem interesse sexual recebem orientação rapidamente a usar Passiflora, um tipo de medicamento natural feito com a flor de maracujá. "Ele receita uma simples Passiflora que é vendida a preço de ouro na lojinha dele. Depois orienta a comprar as pedras abençoadas, que também são vendidas a preço de ouro, na lojinha da casa, advindas de garimpo ilegal", conta Sabrina.

Para Sabrina, o que mais desestimula as vítimas em denunciar é a falta de apoio dos familiares. "Elas denunciam, denunciam há décadas. Depois que passa o sentimento de culpa e a extrema vergonha, elas contam para o marido, para os pais, para os tios, o abuso que sofreram, mas o problema é que eles não acreditam. E os que acreditam falam para elas abafarem a história, pois ele faz o bem para muita gente", relata Sabrina. 

A maior motivação de Sabrina Bittencourt para este trabalho foram os frequentes abusos que ela mesma sofreu ainda na infância. "Dos 4 aos 9 anos foi um médico mormon da minha família. Aos 15 foram um jovem e um líder espiritual, também da igreja mormon. Aos 16 sofri um estupro com tentativa de homicídio por parte de um desconhecido. Como ele era pobre, foi preso e morto na cadeia", relembra, com muitas lágrimas, a ativista. Ela denunciou os membros da igreja mormon mas nada aconteceu. 

Depois das denúncias e da ampla divulgação na impresa, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) vai instaurar procedimento de investigação criminal (PIC) para apurar os relatos. O portal da RedeTV! solicitou posicionamento à Casa Dom Inácio de Loyola, mas não obteve retorno até o momento.

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