16/10/2018 08:11:00 - Atualizado em 17/10/2018 06:57:00

Durante desfile, modelos negras são comparadas a escravas em conversas no Whatsapp

Arthur Henrique - Redação/RedeTV!
Seletiva da Top Cufa 2017 - (Divulgação/Top Cufa)


Mulheres negras foram alvos de ofensas racistas em um grupo de Whatsapp enquanto participavam de um concurso de moda em um shopping de Taguatinga, no Distrito Federal, no último sábado (13). A troca de mensagens envolvia ao menos cinco pessoas e prints da conversa foram publicados na internet.

O evento contemplava a primeira seletiva do Top Cufa, um concurso de beleza dedicado a mulheres que vivem nas periferias do Brasil, com foco na valorização da negritude. 180 modelos de 16 a 25 anos competiam no desfile dentro do shopping.

(Reprodução/Redes Sociais)

Um dos cinco sujeitos que aparecem na conversa, intitulado como "Alex", escreve que "tá tendo um desfile só de preta aqui" no centro de compras. "Coisa horrorosa", comenta ele.

Em sequência, um outro sujeito identificado como "Muniz" fala em tom jocoso que "Alex" tirou uma foto do desfile e encaminha a imagem de escravas enfileirados, com cestas em cima da cabeça. Um terceiro indivíduo contesta a "zoeira" e um quarto, apelidado "Dandan", responde: "Agr o cara é obrigado a achar as preta bonita? [sic]".

(Reprodução/Redes Sociais)

A publicação das conversas ganhou repercussão na internet e o caso foi registrado na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial na segunda-feira (15) pelo organizador do evento e presidente da Central Única das Favelas (Cufa), Bruno Kesseler.

"Não podemos ser coniventes com esse tipo de situação que, infelizmente, ainda ocorre no Brasil", disse Bruno ao Portal RedeTV!. O presidente da Cufa ainda explicou que os prints das conversas foram recebidos por uma das modelos que desfilava no sábado.

"Ela recebeu esses absurdos de um garoto negro que estava no local e que namora uma garota negra. É bom ver que não houve tolerância ou vista grossa diante dessas ações", comentou. 

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, que suspeita de que os autores sejam adolescentes. "Tudo indica que aquele era um grupo de WhatsApp de escola e de colégio", diz Bruno. Caso for confirmado o envolvimento de menores de idade, o caso será encaminhada para a Delegacia da Criança e do Adolescente."

A Delegacia Especial de Repressão aos crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a pessoa idosa (Decrin) confirmou que tratará o caso como "racismo" e não como "injúria racial".

Leia a nota da Cufa na íntegra:

"A Central Única das Favelas (CUFA) repudia veementemente os ataques racistas destinados às modelos participantes da primeira seletiva do Top CUFA-DF, no Shopping JK, em Brasília, que ocorreu no último sábado, dia 13 de outubro. A organização do evento foi informada de atos de racismo realizados em um grupo de WhatsApp com ofensas direcionadas às nossas candidatas negras.

Já encaminhamos o caso para as autoridades competentes, que esperamos que tomem as medidas necessárias. Mas queremos manifestar a nossa grande preocupação com a onda de casos parecidos com esse que vem se alastrando por todo o Brasil, e marcar a nossa posição de que, acima de qualquer coisa, não mediremos esforços para frear esta onda e combatê-la.

A CUFA busca, por meio desta iniciativa e de tantas outras, promover o empoderamento e o protagonismo do público negro e dos moradores de favelas e periferias, transformando a realidade dessas pessoas, a fim de mostrar para o Brasil e o mundo que a favela é um território de potência em diversos segmentos.

Participaram do evento, no Shopping JK, 180 garotas, de 16 a 25 anos, todas moradoras de favelas. Nos solidarizamos com as vítimas destes atos perversos, e queremos ressaltar que não permitiremos que sejam praticados sem a devida punição dos responsáveis.

É importante lembrar que racismo no Brasil é crime inafiançável, previsto na lei, com pena de até três anos. O artigo 5º da Constituição Federal, inciso 42, prevê que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. Já o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 140, parágrafo 3, descreve que “Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”, a pena é de reclusão de um a três anos, mais uma multa. Ressaltamos ainda que que crimes realizados em redes sociais são passíveis de identificação e punição. Estar em rede não significa estar invisível ou livre de responsabilidade.

Por fim, lamentamos o ocorrido e reafirmamos que seguimos a nossa luta de tornar o Brasil um país mais plural, diversificado, inclusivo e com menos ódio, através do trabalho que desenvolvemos em favelas e periferias de mais de 400 cidades do país e do mundo.

Central Única das Favelas"

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