13/03/2021 18:19:00 - Atualizado em 13/03/2021 19:00:00

Atletas relatam desmanche do time feminino do Juventus da Mooca; diretoria rebate

Lucas Soares e Tainá Fernandes/RedeTV!

“Nem um ‘obrigado’ recebemos”, reclamou uma jogadora

(Foto: Divulgação/Juventus)

Com o fim das competições da temporada 2020, as atletas do time feminino do Juventus da Mooca aguardavam o planejamento das competições do próximo ano. Ao invés disso, as jogadoras viram um desmanche completo da equipe, que perdeu toda a comissão técnica e suas principais estrelas.

O time se destacou na última edição do Campeonato Brasileiro Feminino A2, saindo nas quartas de final da competição. Em 2021, o clube tem pela frente o Campeonato Paulista e a Copa Paulista. No entanto, as atletas acabaram ficando sem perspectiva.

Nas redes sociais, diversas jogadoras que compunham o elenco fizeram postagens anunciando a saída do time e relatando um descaso da diretoria, que não teria se posicionado a respeito da temporada 2021. “Ninguém da diretoria do clube sequer se pronunciou sobre o que aconteceria com o futebol feminino esse ano. E assim foi, saímos de uma grande campanha no brasileiro A2, para o fim do futebol feminino”, relatou a atleta Emilly Souza no Instagram.

O portal da RedeTV! conversou com outras jogadoras, funcionários do clube e com a direção sobre a denúncia. “Desde o retorno aos treinos nesse ano, o técnico [Welington Souza] dizia que a diretoria não tinha dado nenhum posicionamento sobre o planejamento financeiro, mas que continuaríamos treinando e aguardando eles falarem algo”, explicou a atleta Adriane Sousa, de 20 anos. 

A jovem contou ainda que a rotina dentro do CT estava mudando. “Antes treinávamos todos os dias da semana e depois passou a ser apenas três dias, pois eles não estavam pagando a ajuda de custo e não tinha previsão se iria continuar ou não dando esse auxílio”, completou. As jogadoras que compunham o elenco não tinham salário, mas a maioria recebia uma ajuda de custo fornecida pelo clube. A média dos valores variava de R$ 250 a R$ 500, mas em alguns casos chegava até R$ 1 mil.

A situação foi complicando a partir da saída do treinador, antigo funcionário da instituição. O time então passou a ser treinado pelo auxiliar técnico e um preparador físico, mas não por muito tempo. “Acabamos saindo pela falta de consideração, já estava me fazendo mal particularmente trabalhar sem saber como seria o futuro de todos”, disse um ex-funcionário que preferiu não ser identificado. 

Saída das atletas 

(Foto: Divulgação/Juventus)

Sem perspectivas, muitas das jogadoras que compunham o elenco acabaram optando por sair do Juventus da Mooca. “A comissão foi se despedindo aos poucos, desde então as atletas foram se despedindo porque não tinha ninguém pra treinar a gente. Foi aí que começaram a fazer o movimento nas redes sociais, porque ninguém explicou o que estava acontecendo”, disse uma ex-jogadora do time, que não quis revelar o nome.

Na realidade do futebol feminino, conseguir outro clube para atuar não é fácil e muitas atletas ficaram sem opção. “Eu sinceramente não sei o que fazer, pois estou sem nenhuma proposta. É complicado, mas como é minha paixão, pretendo continuar”, desabafou Adriane.

“Nem um ‘obrigado’ recebemos”

A maior crítica das atletas é referente a falta de profissionalismo da diretoria do clube com relação ao time feminino. “Eu queria que eles tivessem o mínimo de respeito por nós e ao menos tivessem falado com a gente”, explicou a jogadora de 20 anos. 

“Ano passado, quando jogamos o paulista e o brasileiro, nossa, o diretor do feminino foi até no campo se apresentar e tudo mais. Agora, esse ano não teve nem o respeito de chegar e passar para as atletas o que estava acontecendo”, completou outra profissional.

Nos comentários das últimas postagens do clube nas redes sociais é possível notar uma grande movimentação do público com a hashtag #RespeitoAoFutebolFeminino.

Diretoria rebate

A reportagem conversou ainda com Amaury Russo, diretor do time feminino do Juventus. O mandatário negou que houve negligência do clube com as atletas e disse que a instituição passa por uma grave crise financeira na pandemia da Covid-19.

“Sempre quem bancou foi a sede social. Estamos com uma arrecadação 60% menor daquilo que a gente tinha antes. A pandemia jogou a gente no chão”, disse o diretor explicando que o clube está em busca de financiamento para manter a categoria funcionando. “Esse ano inteiro estou igual louco atrás de patrocínio”.

“Nós só conseguimos disputar o brasileiro com ajuda da CBF. Hoje está tudo parado, não temos base nem feminino. A gente só disputa o profissional porque tem patrocínio”, completou.

Amaury também disse que a situação do time foi passada para as jogadoras. “Fizemos um acordo com o técnico, eu passei para que ele passasse para todas as meninas. Agora as atletas que não se colocaram em outras equipes estão reclamando”, disse.

O que esperar?

Apesar da situação caótica, algumas profissionais ainda aguardam um posicionamento mais concreto. “Estamos ainda esperando uma reunião para contar o que está acontecendo”, finaliza uma das jogadoras.

“Sabemos da atual situação do clube, mas tratem atletas profissionais como profissionais. O desfecho aconteceu como eles queriam, todos saíram e fim. Aí eu te pergunto, se fosse no masculino, fariam isso?”, refletiu um ex-funcionário da instituição.

Recomendado para você

Comentários