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DESVENDANDO A TECNOLOGIA
Cláudio Boghi é administrador de empresas, analista de sistemas e possui MBA em Tecnologia Educacional. É mestre em administração de empresas e em ciência da tecnologia pela USP. Atua como consultor há mais de 27 anos em tecnologia da informação e em gestão socioambiental.
 
 
postado em 09/02/2022 21h48

Profissionais de 50 anos ou mais disputam espaço em Tecnologia da Informação (TI)



(Foto: Divulgação) 

Quando você pensa em uma pessoa que é profissional de tecnologia em setores como TI ou programação, qual é a imagem mais comum na sua cabeça? É bem possível que seja a de alguém antenado, ágil, conhecedor das novidades do mercado, pronto para assumir desafios na carreira… e jovem.

Só que o mercado para profissionais de tecnologia dentro e fora do Brasil está longe de ser restrito a esse perfil. Há um grupo bastante presente no setor com mais de 50 anos, que encara tantos desafios e obstáculos quanto quem está no início de carreira — enfrentando ainda olhares de desconfiança, falta de oportunidades e até preconceito por parte de quem faz parte dessa indústria em alta.

Conhecimento e experiência de sobra

A geração de pessoas de mais de 50 anos que trabalha no setor técnico está presente em serviços como telecomunicações, varejo, sistemas governamentais e a nível de software ou hardware.

"São dois grupos de pessoas: os que quiseram 'botar o pijama', que são poucos, porque não podem ou não querem trabalhar mais, e aqueles que têm que continuar trabalhando, seja pela necessidade financeira, seja pela necessidade psicológica", explicou a diretora-geral Latam, da empresa de serviços de suporte Rimini Street, Edenize Maron. Além dos caminhos apontados, muitos profissionais acabam migrando para outros setores e adotando cargos administrativos na mesma ou em outras companhias.

O resultado é um setor que encara uma “juniorização”, ou seja, a redução cada vez maior da média de idade e do período de experiência na área. Isso significa a priorização de contratar pessoas cada vez mais jovens, seja por gostar de um perfil em específico que tem na faixa etária um dos requisitos, seja por questões financeiras, já que profissionais que estão começando no mercado de trabalho tendem a aceitar salários mais baixos.

Entre as principais qualidades desses profissionais técnicos mais experientes, Maron cita a familiaridade com sistemas ainda em uso ou que precisam passar por um período de transição, mas que não são tão conhecidos pelos mais jovens.

"A tecnologia em si não é nada, precisa de alguém que saiba usar. É uma combinação do conhecimento técnico e o da vida, dos processos e de negócios. Existe um certo apego dos sistemas estabelecidos hoje, e a modernização depende dessas pessoas", afirmou a executiva ao defender a existência desse segmento no mercado.

Em outras palavras, excluir candidatos mais técnicos somente pela idade mais alta pode gerar problemas que incluem a falta de colaboradores que conhecem a fundo sistemas mais tradicionais e que ainda são utilizados em certos ambientes. "Hoje, já é uma realidade essa consciência de que tem que colocar nas equipes um grupo eclético. Não é uma pessoa ou outra, é uma geração e outra", explicou a diretora.

Segundo a 32ª Pesquisa Anual do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGVcia), que estudou o mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) e o uso nas empresas, os principais projetos corporativos hoje envolvem tanto temas recentes, como inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT), quanto aqueles que exigem maior conhecimento e experiência em certas plataformas, como transformação digital e etapas de migração e implementação.

Tem espaço?

De acordo com a pesquisa Diversidade do Setor TIC 2020, da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), um terço dos profissionais em funções técnicas do setor TIC (software, serviços, indústria e comércio) têm entre 18 e 24 anos, enquanto menos de 5% têm mais de 50 anos. Isso significa que a faixa etária está presente, mas é proporcionalmente pequena e tem espaço para crescer, inclusive nos próximos anos.

O Brasil é um país com alta demanda no setor, pois a área de TIC tem previsão de fechar 2021 com um crescimento de 7%, segundo um relatório da IDC. Apesar da pandemia, são muitos os investimentos nos temas de segurança, IA, nuvem pública, modernização de sistemas de gestão e experiência do cliente.

"O profissional de tecnologia de 50 anos ou mais já faz parte, por natureza, de uma geração de pessoas muito capacitadas em linhas gerais. Desde a liberação do mercado de tecnologia no Brasil, a partir das décadas de 1980 e 1990, esses profissionais viveram o boom de adoção de tecnologia, porque o país era extremamente atrasado", explicou Maron.

O período citado ficou marcado inclusive pela reserva de mercado da informática, quando marcas estrangeiras tinham atuação limitada ou até proibida. Isso fortaleceu fabricantes nacionais, mas não utilizava todo o potencial ou mão de obra do nosso país.

Além de vivenciar praticamente em tempo real a chegada de tecnologias, sistemas e processos, essa geração fez parte do momento em que a formação universitária especializada foi intensificada, com a criação ou expansão de cursos de Ciências da Computação e similares pelo país.

Preconceito e outros obstáculos

Não é apenas a falta de emprego em alguns setores que afasta profissionais de mais de 50 anos da área técnica. O preconceito de contratar pessoas mais velhas para trabalhos cujo estereótipo formado é o de um jovem leva até mesmo a uma análise enviesada de currículos, dando preferência a trabalhadores mais novos.
O grupo mais experiente é erroneamente considerado como ultrapassado, resistente contra mudanças e que não apresenta um conhecimento moderno — uma concepção que aos poucos tem sido desafiada no setor, mas que ainda persiste.

Para Maron, há também a noção negativa de que essa inclusão pode ser um emprego quase informal, em uma posição de pouca atividade e não no cargo que trabalha diretamente com arquiteturas, sistemas e equipamentos.

Na verdade, o processo deve ser o oposto: profissionais mais experientes tendem a pedir salários maiores, mas esse preço pode ser compensado com a bagagem oferecida pelo candidato. Segundo a diretora, empresas como a Rimini Street hoje não lidam com o assunto como algo delicado, considerando que a presença de profissionais mais maduros é um problema.

"A recomendação é essa: pague bem, pague o que tem que ser pago, desafie o profissional e insira ele no grupo das gerações mais jovens, porque o que ele tem para agregar é incrível", ela concluiu.

Como buscar profissionais de mais de 50 anos no mercado?

"O primeiro passo é realmente conversar com as pessoas [...] Quando entrevistar, fazer uma publicação de uma vaga ou definir a contratação, não levar em conta a idade".

"Buscar o que há de melhor. Se você quer contratar uma pessoa 50+, mas você faz uma descrição de vaga para pessoa recém-formada, isso não a motiva. Você tem 50 anos de idade, mas quer ser desafiado. É isso que nos leva a ter um projeto, nos faz viver".

"Dê valor a si mesmo, procure e não se apresente como ‘estou no fim de carreira’. Você vê gente entrando na faculdade de Medicina com 60 anos, por que não podemos capitalizar o conhecimento também em Tecnologia?"
Ate a próxima!

Fonte:
Tecmundo - www.tecmundo.com.br
Boghi Consultoria em TI – www.boghi.com.br

 

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