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DESVENDANDO A TECNOLOGIA
Cláudio Boghi é administrador de empresas, analista de sistemas e possui MBA em Tecnologia Educacional. É mestre em administração de empresas e em ciência da tecnologia pela USP. Atua como consultor há mais de 27 anos em tecnologia da informação e em gestão socioambiental.
 
 
postado em 06/03/2019 10h15

Carros autônomos não pagarão estacionamento



(Foto:Reprodução)

Sem necessidade de estacionar

Se você acha que o trânsito nos centros das cidades está ruim hoje, espere até que os carros autônomos saiam das concessionárias.

Eles provavelmente vão ficar circulando à espera de seus donos para evitar pagar as altas taxas de estacionamento no centro da cidade.

Pior ainda, como rodar em velocidades mais baixas gasta menos baterias, os carros autônomos provavelmente vão rodar lentamente enquanto matam o tempo para esperar seus donos, avalia o planejador de transporte Adam Millard Ball, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

"Os preços de estacionamento são o que leva as pessoas a deixarem seus carros em casa, mas os veículos autônomos não têm necessidade de estacionar. Eles podem evitar o estacionamento rodando. Eles terão todo o incentivo para criar um estrago [no trânsito]," acrescentou Ball.

Rodar para evitar pagar estacionamento

Sob o melhor cenário possível, a presença de apenas 2.000 carros autônomos no centro da cidade de São Francisco, nos EUA, seria suficiente para reduzir a velocidade no trânsito para menos de 3 quilômetros por hora, de acordo com o pesquisador, que usou teoria dos jogos e um modelo de microssimulação de tráfego para fazer suas previsões.


"É preciso apenas uma minoria para atrapalhar as coisas," disse ele, citando os congestionamentos nos aeroportos causados pelos motoristas que ficam circulando pela área de "chegadas" para evitar pagar pelo estacionamento: "Os motoristas andam o mais lentamente possível para que não precisem dar outra volta."

Estacionamentos com internet e chamadas de celulares sem custos, juntamente com uma fiscalização mais rigorosa, têm ajudado a aliviar os problemas nos aeroportos. Ampliar essas medidas para os centros das cidades, contudo, exigirá fornecer áreas de estacionamento remotas para carros autônomos a taxas menores do que o custo de simplesmente deixá-los rodando.

"Mesmo quando você leva em conta a eletricidade, depreciação, desgaste e manutenção, o custo de cruzeiro é de cerca de 50 centavos [de dólar] por hora - isso é mais barato do que estacionar mesmo em uma cidade pequena," cita Ball. "A menos que seja grátis ou mais barato do que ficar rodando, por que alguém usaria um estacionamento distante?"

Pedágio urbano

Economistas e ambientalistas concordam que "taxar o congestionamento" - cobrar pedágio pelo uso das vias centrais, por exemplo - reduz efetivamente o congestionamento e a poluição, mas é uma estratégia politicamente cara porque aumenta a ira dos motoristas.

Mas é aí que Ball aponta uma oportunidade um tanto maquiavélica.

"Como política, cobrar um pedágio urbano é difícil de implementar. O público nunca quer pagar por algo que historicamente pegou de graça," disse ele. "Mas ninguém tem um veículo autônomo hoje, então não há um eleitorado organizado para se opor à cobrança pelo uso das vias públicas. É a hora de estabelecer o princípio e usá-lo para evitar o cenário de pesadelo do engarrafamento total."

Até a próxima!

Fonte:
The autonomous vehicle parking problem
Adam Millard-Ball
Transport Policy
Vol.: 75, March 2019, Pages 99-108
DOI: 10.1016/j.tranpol.2019.01.003

 

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