25/05/2016 07:39:00

Serra determina a diplomatas que combatam "ativamente" questionamentos ao impeachment no exterior

2016-05-25 10:30:56 GMT+00:00 - Reuters

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro das Relações Exteriores, José Serra, enviou o todos os servidores no Brasil e no exterior uma circular com orientações para que combatessem ?ativamente? quaisquer críticas feitas por governos, organismos internacionais e órgãos de imprensa ao processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em um movimento que causou inquietação entre diplomatas.

A circular de número 101296, a qual a Reuters teve acesso, tem nove páginas e foi distribuída diretamente pelo gabinete ministerial --um movimento raro dentro do Itamaraty, onde as orientações aos postos costumam vir das áreas fins ou da Secretaria-Geral. O texto cita mais de uma dezena de ?exemplos? de declarações feitas por entidades e governos que devem ser respondidas pelos diplomatas, com orientações políticas e favoráveis ao processo de impeachment.

?Como é de conhecimento de vossa excelência, órgãos de imprensa, acadêmicos e membros da sociedade civil, mas também dirigentes de organismos internacionais e representantes de governo têm-se manifestado, frequentemente de forma imprópria e mal informada, a respeito das questões de conjuntura política interna brasileira, em especial do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ora em curso?, diz o texto.

?Os equívocos porventura cometidos no tratamento de temas da realidade brasileira por autoridades locais na jurisdição do posto, geradores de percepções erradas sobre o corrente processo político no Brasil devem ser ativamente combatidos por vossa excelência?, continua a circular, dirigida a embaixadores e diplomatas, afirmando ainda que as declarações devem ser ?enfrentadas com rigor e proficiência?.

O texto continua citando exemplos de problemas em declarações do secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Ernesto Samper, do secretario-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, da Aliança Bolivariana (Alba) e dos governos da Bolívia, Equador, Venezuela, Cuba e El Salvador.

São dados também subsídios para que os diplomatas possam defender o processo de impeachment. O texto fala, por exemplo, que o processo é político e segue rigorosamente o rito estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal. E que deputados e senadores também receberam ?milhões de votos para cumprir suas funções constitucionais?.

Mesmo entre diplomatas que mostraram entusiasmo com a chegada de um chanceler político, que poderia dar mais força ao Itamaraty, a circular não foi bem recebida. A crítica é que Serra estaria fazendo o mesmo que acusou os governos petistas de fazer, uma instrumentalização do ministério.

Um dos diplomatas ouvidos pela Reuters lembrou o caso do diplomata Milton Rondó Filho que, por iniciativa própria, mandou uma circular aos postos alertando para o risco de um golpe do Brasil. Rondó foi repreendido e o então secretário-geral Sérgio Danese revogou imediatamente a circular.

?Tem sido recorrente a tentativa de retirar legitimidade da instauração do processo de impeachment pelo Senado Federal?, diz a circular ditada pelo ministro, acrescentando que muitos entes estrangeiros têm ?dificuldade de compreender a má gestão das contas públicas?. Essa dificuldade estaria evidenciada, exemplifica, nas declarações de Almagro e do governo boliviano.

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