07/04/2018 13:01:00 - Atualizado em 07/04/2018 19:25:00

Lula diz que irá se entregar à PF: "Vou cumprir o mandado"

Redação/RedeTV! com Agência Brasil

(Foto: Ricardo Stuckert)

Depois de manter silêncio por dois dias após a ordem de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado (7) que irá se entregar à Polícia Federal.

"Eu vou cumprir o mandado. Vou atender o pedido deles, vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece nesse país é por minha causa", declarou durante missa em homenagem à ex-primeira dama Marisa Letícia, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no fim da manhã deste sábado. "Eu não estou escondido, eu vou lá na barba deles, para eles saberem que eu não tenho medo, que não vou correr e para saberem que eu vou provar a minha inocência".

Lula ainda atacou o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, e disse que não o perdoa por ter manchado sua imagem. "Já fiz muita coisa nos os meus 72 anos, mas eu não os perdoo por terem passado para a sociedade a ideia de que sou um ladrão", declarou. "Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denuncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juizes do TRF-4. Queria que provassem qual é o crime que eu cometi nesse país"

O ex-presidente responsabilizou a imprensa e o Ministério Público pela morte de ex-primeira dama.  “A antecipação da morte da Marisa foi uma sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram com ela”, disse. "Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família, não é fácil o que sofre os meus filhos, o que sofreu a Marisa. Essa gente eu acho que não tem filho, acho que não tem alma".

Ao se referir à condenação pelo triplex em Guarujá (SP), o ex-presidente reiterou não ser dono do imóvel. “Sou o único ser humano que é processado por um apartamento que não é meu. Pensei que o Moro ia resolver isso, mas ele mentiu [me condenando]”, disse. “Nenhum deles têm coragem ou dorme com a consciência tranquila como eu durmo. Não estou acima da Justiça”, acrescentou. “Certamente um ladrão não estaria exigindo prova [como eu faço]”.

Lula ainda disse estar sendo perseguido por ter investido em inclusão social durante o seu governo: "Se esse é o crime que eu cometi, eu vou continuar sendo criminoso nesse país porque eu vou fazer muito mais. 

Após o discurso, o ex-presidente voltou ao prédio do sindicato carregado por militantes.

"Sou uma ideia"

Lula incentivou a participação popular por meio de manifestações e protestos em defesa de ideias e propostas. “Minhas ideias estão no ar e não tem como prendê-las. Meu coração baterá pelo coração de vocês”, disse. “Não pararei porque não eu sou sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês. A morte de um combatente não para a revolução”, afirmou.

E chamou cada militante de Lula. “Somos Lula”, disse. A frase “Eu sou Lula” foi ecoada na plateia.

Para Lula, ele foi condenado politicamente por ter tirado muitos da miséria. "Se eu cometi esse crime [de ter tirado brasileiros da miséria], vou continuar sendo criminoso nesse país, porque vou fazer muito mais”, acrescentou.

Missa

O ex-presidente fez o discurso de um caminhão de som, ao lado de aliados, como a ex-presidente Dilma Rousseff; o presidente estadual do PT, Luiz Marinho; os ex-ministros Fernando Haddad e os pré-candidatos à Presidência Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB).

Lula relembrou histórias, falou sobre sua trajetória no Sindicato e disse que aprendeu muito durante seu tempo na liderança da entidade. "Vivi os melhores momentos no Sindicato", afirmou. "Aqui foi minha escola, aprendi sociologia, economia, física, química, e aprendi a fazer muita política."

Pelo menos dois militantes passaram mal durante o evento e precisaram ser socorrido por médicos. Na segunda ocasião, Lula reagiu: "Espero que não tenha sido a minha voz, se não vou ter que parar de falar". Antes do discurso, o público chegou a gritar "Não se entrega!" durante ao menos dois momentos em que um bispo falava. 

Ao iniciar seu discurso, Lula cumprimentou e elogiou todos os aliados presentes: Guilherme Boulos, Luiz Marinho, Manuela D'Ávila, Celso Amorim e Dilma Rousseff. Ao falar da ex-presidente, o petista descreveu-a como "a mais injustiçada das mulheres que um dia ousaram fazer política nesse país" e disse que ela foi essencial para o seu governo: "A Dilma foi a pessoa que me deu a tranquilidade de fazer quase tudo que eu consegui fazer na presidência pela confiança, seriedade e competência técnica da Dilma. Sou grato de coração. Portanto, Dilma, repartirei meu sucesso na presidência com Vossa Excelência".

Assista à íntegra do discurso:

Condenação

O caminho para a prisão de Lula foi aberto após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar o habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente por 6 votos a 5, na última quarta-feira (4), em um julgamento de quase 11 horas de duração.

Lula foi condenado por Sérgio Moro a cumprir 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo caso do triplex no Guarujá (SP). Ele foi acusado pelo Ministério Público de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS. Posteriormente, o TRF-4 aumentou a pena do ex-presidente Lula para 12 anos e 1 mês de encarceramento, com início em regime fechado. 

Relembre a sequência de ações penais que culminaram no pedido de prisão de Lula:

- 04/03/2016 : Houve condução coercitiva de Lula para depor à Polícia Federal, autorizada por Moro. A defesa também questionou interceptações telefônicas feitas no escritório de Roberto Teixeira, um dos advogados do ex-presidente. As gravações acabaram anuladas como prova.

- 14/08/2016: O procurador da República Deltan Dallagnol apresenta denúncia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro contra o ex-presidente. Na ocasião, os procuradores apontaram Lula como “comandante” do esquema de corrupção na Petrobras.

- 20/04/2017: Após quatro meses preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, em decorrência de outras ações, o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, depõe contra Lula no processo, e afirma que havia reservado o triplex para Lula.

- 10/05/2017: Lula e Moro ficam frente à frente pela primeira vez. Na ocasião, o ex-presidente negou ser dono do triplex no Guarujá (SP), afirmando que nunca ocupou o imóvel ou ter tido sequer a intenção de comprá-lo. A defesa reafirmou não haver nenhum documento a comprovar que a unidade seria de propriedade de Lula.

- 12/07/2017: Moro proferiu sua sentença, na qual condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

- 12/09/2017: A defesa do ex-presidente recorreu contra sentença ao Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), segunda instância da Justiça Federal, com sede em Porto Alegre. Na alegação, os advogados argumentam que houve uma série de equívocos durante a tomada de depoimentos.

- 12/01/2018: Os desembargadores da Oitava Turma do TRF4 decidem ampliar a punição a Lula para 12 anos e um mês, em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).

- 21/02/2018: Advogados do ex-presidente recorrem ao próprio TRF4 contra decisão de prisão sob a alegação de que viola a Constituição.

- 27/03/2018: A defesa de Lula recorre, novamente, ao TRF4 contra a decisão de pena em regime fechado.

- 04/04/2018: Em sessão que durou mais de 9 horas, o Supremo Tribunal Federal (STF), por um placar de 6 x 5, rejeitou habeas corpus preventivo apresentado por Lula para evitar uma eventual prisão. 

-05/04/2018: O juiz Sérgio Moro determina que o ex-presidente se apresente à Polícia Federal até as 17h do dia seguinte para cumprir a pena em regime fechado.

-06/04/2018: Há protestos contra e a favor da decisão do Supremo. Em São Paulo, Lula se reúne com a cúpula do PT e sindicalistas. É aguardada a manifestação dele.

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