17/06/2017 06:59:00 - Atualizado em 17/06/2017 14:41:00

Em entrevista, Joesley Batista dispara contra Temer e diz ter virado "refém" de Cunha e Funaro

Redação/RedeTV!

Joesley Batista (Foto: divulgação)

Após gravação de conversa com o presidente Michel Temer e declarações em delação que abalaram a estrutura política no país, Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, concedeu sua primeira entrevista após as denúncias mais contundentes em três anos da Operação Lava Jato. À revista “Época”, Joesley admitiu a fama de “maior comprador de políticos do país” e garantiu que todas as provas disso estão em documentos entregues à Procuradoria-Geral da República.

Sobre sua relação com Temer, o empresário descartou qualquer vínculo de amizade. “Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá”, afirmou.

Joesley destaciou que essas conversas convocadas pelo presidente nunca eram para um simples “bate-papo”. “Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação. Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes”, ressaltou.

O dono da J&F explicou ainda o empréstimo de um jatinho para uma viagem de Michel Temer que, segundo o empresário, acredita que o peso de seu cargo obriga a todos a deverem favores a ele. “Foi dentro desse contexto: ‘Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí’. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014”, relembrou.

Sobre o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, a quem se referiu como uma espécie de auxiliar direto de Michel Temer, e o doleiro Lúcio Funaro, que estaria abaixo de Cunha na hierarquia, Joesley foi direto. “Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: ‘Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?’. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”.  Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados”, destacou.

Ainda sobre a “hierarquia” do grupo envolvido no esquema de propina, o executivo resumiu: “O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele”, concluiu.

Veja também: "STF precisa reavaliar benefícios a Joesley Batista", avalia Reinaldo Azevedo

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