Dilma diz que inquérito vai comprovar mentiras de Delcídio e pede apuração sobre vazamentos
ReutersA presidente Dilma Rousseff classificou de mentirosas as afirmações do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) que embasaram o pedido de abertura de inquérito da Procuradoria-Geral da República por tentativa de obstrução da operação Lava Jato, e disse que pedirá que a Advocacia-Geral da União solicite ao Supremo Tribunal Federal apuração do vazamento do pedido, que estava sob sigilo.
"Estranhamente vaza às vésperas do julgamento no Senado. Aqueles que vazaram têm interesses escusos e inconfessáveis. E eu vou solicitar ao ministro da AGU que peça a abertura de inquérito no Supremo para apurar estes vazamentos", disse a presidente.
Dilma reclamou que, com os vazamentos, mesmo que depois se conclua que não existe nada, o ''dano está feito''.
''O que querem com isso? Querem o dano feito. Eu quero dizer que sempre fui a favor de investigações e quero que essa seja investigada a fundo, inclusive quero saber quem é o autor, ou os autores do vazamento."
A presidente chamou de "levianas" e "mentirosas" as acusações feitas por Delcídio do Amaral.
O senador afirmou, em sua delação premiada, que a presidente indicou ministros para o Superior Tribunal de Justiça com a intenção de obter a libertação de presos na Lava Jato. Entre eles, Marcelo Navarro. O ministro nega ter negociado sua nomeação com o Planalto.
"O senador Delcídio tem a prática de mentir e isso ficou claro ao longo de toda esta questão relativa a sua prisão a partir das gravações. Tenho certeza que a abertura do inquérito vai demonstrar apenas que o senador, mais uma vez, faltou com a verdade, como aliás ele fez anteriormente", disse.
LUTA ATÉ O FIM
Em seu discurso durante a cerimônia, depois de uma mais uma sequência de explicações sobre as acusações que embasam seu pedido de impeachment, Dilma afirmou que continuará lutando contra o processo.
"Hoje há no Brasil um processo de impeachment contra o qual eu luto e lutarei em todas as instâncias e com todos os instrumentos possíveis, porque tenho a tranquilidade de não ter cometido crime de responsabilidade", disse.
A única peemedebista que permanece no governo, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu --também amiga pessoal da presidente-- usou sua fala para fazer um desagravo a Dilma.
"Gostaria de dizer que muito me entristece ver as acusações contra a sua pessoa e ver lutarem para tomar seu lugar", disse, afirmando que uma das acusações é Dilma ter "ajudado a agricultura brasileira".
A ministra afirmou que se esse é o problema quer ser 'corresponsável', por ter sugerido a Dilma que investisse na área agrícola.
"Não estamos aqui para receber os louros do momento e da hora. A popularidade vai e vem, mas a dignidade e a honra, se se forem um dia, nunca mais voltam. Tenho orgulho de estar ao seu lado, de ser sua ministra, ser parceira. Confio na sua honestidade e no seu espírito público, tenho convicção do legado que a senhora vai deixar para o Brasil.''
Parte do setor agrícola boicotou a cerimônia. Há cerca de uma semana, depois de sair de um encontro com o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, já havia avisado que a CNA não participaria por discordar do plano e não ter sido chamada a negociá-lo com o governo.