17/07/2018 07:05:00 - Atualizado em 17/07/2018 09:21:00

Postura de Trump com Putin revolta republicanos

Ansa Brasil

Políticos e jornais norte-americanos teceram duras críticas à postura adotada pelo presidente Donald Trump no encontro com o líder russo, Vladimir Putin, ontem (16), na Finlândia, durante o qual defendeu uma melhora nas relações entre Washington e Moscou e negou qualquer interferência de hackers russos nas eleições à Casa Branca de 2016. O republicano chegou a criticar a investigação conduzida dentro do próprio país sobre o caso.

O encontro, realizado em Helsinque, na Finlândia, foi o segundo entre os dois líderes, que adotaram um tom amigável. Na coletiva pós-reunião, Trump desacreditou a Justiça e os serviços de inteligência de seu próprio país e disse que o "caso Rússia" é um "desastre" que colocou em dificuldade as relações entre "as duas maiores potências nucleares".

"Eu nunca pensei que chegaria o dia quando nosso presidente estaria ao lado do presidente da Rússia em culpar os Estados Unidos por uma agressão russa. Vergonhoso", escreveu no Twitter o senador republicano Jeff Flake, crítico notório de Trump dentro do partido.

Outro adversário do presidente na legenda, o também senador John McCain, disse que a performance do magnata em Helsinque foi uma das mais "desonrosas" por parte de um mandatário dos EUA. "É difícil calcular os danos infligidos pela ingenuidade e pela simpatia de Trump por autocratas", reforçou, chamando a cúpula de "erro trágico".

O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, afirmou que "não há dúvidas" de que a Rússia tentou interferir nas eleições de 2016 e que o país não pode ser considerado um "aliado". "Disse várias vezes e digo de novo: os russos não são nossos amigos", atacou o líder republicano no Senado, Mitchell McConnell.

O ex-vice-presidente Joe Biden afirmou que a coletiva de imprensa de Trump e Putin “não foi digna de um presidente dos Estados Unidos”, pois não reflete aquilo que os cidadãos “pensam e nem o que são”. “Trump insultou nossos amigos e se aliou aos nossos adversários”, alegou Biden.   

Já o ex-diretor do FBI James Comey pediu que os patriotas “se coloquem de pé para rechaçar o comportamento” de Trump, que “eximiu um criminoso mentiroso e se negou a apoiar o próprio país”. Até Newt Gingrich, um dos maiores aliados e defensores de Trump, disse que o mandatário cometeu “o erro mais grave da sua Presidência e deve se corrigir imediatamente”. A imprensa dos EUA também repercutiu as declarações de Trump.   

Para o jornal “The Washington Post”, Trump “confabulou abertamente com o líder criminoso de uma potência hostil”, negando-se a admitir o comportamento de Moscou e “destroçando o sistema judiciário de seu país”. O “The New York Times” disse, por sua vez, que Trump “está trabalhando duramente para sabotar os laços dos Estados Unidos com a Otan e com a União Europeia, e para debilitar a influência norte-americana no Oriente Médio”. O “The New York Daily News” foi mais fundo e chamou a postura de Trump de “traição”, em um artigo ilustrado com uma imagem do republicano apontando uma arma para o “Tio Sam”. 

Já seu colega Lindsey Graham declarou que a postura de Trump será vista como "sinal de fraqueza" e criará "mais problemas". As críticas também tomaram conta da comunidade de inteligência, como o ex-diretor da CIA John Brennan, que chamou a coletiva conjunta de Trump e Putin de "nada menos do que subversiva".

"Não apenas os comentários de Trump foram imbecis, ele está totalmente no bolso de Putin", acrescentou. James Comey, demitido pelo magnata do comando do FBI, disse que o presidente se aliou a um "criminoso mentiroso".

Com a repercussão negativa, Trump tentou se explicar no Twitter e afirmou que tem "muita confiança" nos serviços de inteligência norte-americanos. "No entanto, também reconheci que, para construir um futuro melhor, não podemos nos focar exclusivamente no passado. Como as duas maiores potências nucleares do planeta, devemos estar juntos", escreveu.

Já Putin deu uma entrevista à emissora "Fox" e disse que "as coisas melhoraram" após a cúpula de Helsinque.

Prisão

Enquanto o mundo repercutia as declarações de Trump defendendo o Kremlin, as autoridades federais dos EUA prendiam uma cidadã russa acusada de espionagem.

A mulher, identificada como Maria Butina, trabalharia para um representante ligado a Moscou, com o objetivo de se infiltrar em organizações políticas norte-americanas, principalmente entidades pró-armas.

A investigação, no entanto, não tem ligação com o "caso Rússia", que é conduzido pelo procurador especial Robert Mueller.

(Reprodução/Helsinque 2018)

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