27/11/2015 16:28:00

CPFL, Eletropaulo e Ampla pedem reajuste extra em tarifa

2015-11-27 18:19:39 GMT+00:00 - Reuters

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - As distribuidoras de eletricidade do Grupo CPFL, a Eletropaulo, da AES Brasil, e a Ampla, que pertence à italiana Enel, pediram ao órgão regulador um reajuste extraordinário nas tarifas que podem cobrar dos consumidores, mesmo após altas tarifárias neste ano que chegaram a superar 50 cento.

As empresas confirmaram à Reuters os pedidos feitos à Aneel e disseram que têm enfrentado custos maiores que os cobertos pelas tarifas, como uma alta na energia da hidrelétrica de Itaipu, cotada em dólar, apesar dos elevados reajustes e da arrecadação de 11 bilhões de reais pelas "bandeiras tarifárias" --mecanismo implementado neste ano que autoriza cobrança extra nas contas quando há termelétricas com custo elevado em operação-- rateado entre todas as distribuidoras.

Nenhuma das empresas revelou o tamanho do reajuste solicitado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A CPFL pediu o reajuste para seis subsidiárias e afirmou à Reuters que o descompasso entre tarifas e custos, que pelas regras deveria começar a ser quitado somente nos próximos reajustes regulares, em 2016, acumula saldo (déficit) de 1,9 bilhão de reais até o final do terceiro trimestre.

"O pedido de revisão extraordinária tem como objetivo mitigar o impacto financeiro desse saldo nas concessionárias", disse em nota a companhia, que pediu reajustes para cinco unidades de São Paulo e uma no Rio Grande do Sul.

A Enel, que tem atuação no Rio de Janeiro, disse que apresentou seu pedido "diante do atual cenário do setor elétrico e da pressão financeira por que passam as distribuidoras de energia brasileiras", e que o objetivo é "cobrir os custos extras que não estavam previstos no reajuste ordinário".

Em nota, o grupo italiano também listou entre os fatores que pesam sobre seu caixa os custos maiores com a compra de energia da hidrelétrica de Itaipu, além de encargos setoriais.

A Eletropaulo, que atua na região metropolitana de São Paulo, disse que há "descasamento financeiro dos custos... em especial pela alta do dólar".

As tarifas da Ampla subiram 42 por cento neste ano, enquanto as da Eletropaulo tiveram dois reajustes, um de 32 por cento e outro de 15 por cento.

Já as concessionárias da CPFL tiveram reajustes de até 45 por cento, além de uma elevação extraordinária já autorizada de até 35 por cento aplicada no início do ano.

As distribuidoras de energia contam com um reajuste anual, segundo as normas do setor elétrico, além de revisões periódicas das tarifas, em média a cada quatro anos. Mas, neste ano, dada a elevação dos custos, a Aneel já garantiu um reajuste extraordinário às empresas, aplicado no final de fevereiro.

"Quando o ambiente regulatório está dentro de uma normalidade e as diferenças não são tão expressivas, as concessionárias procuram evitar entrar com pleitos extraordinários, porque o resultado é incerto e cria, digamos assim, um certo desconforto com o regulador", explicou à Reuters o consultor Eduardo Bernini, da Tempo Giusto.

Ele acredita, no entanto, que as empresas têm sofrido mais com o descompasso neste ano até devido à alta da inflação, que deve fechar o ano acima de 10 por cento.

Já a alta dos preços da energia elétrica, segundo a última ata disponível do Comitê de Política Monetária do Banco Central, deve fechar o ano em 51,7 por cento.

PESO NA ALAVANCAGEM

A defasagem na tarifa tem pesado também sobre a alavancagem das empresas.

A holding CPFL, por exemplo, está com relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 3,46 vezes, ante teto de 3,75 vezes negociado com credores. A empresa calcula que o indicador seria 2,98 se não houvesse o descompasso.

Já a AES Eletropaulo tem a relação dívida líquida/Ebitda em 3,4 vezes, ante limite de 3,5 vezes negociado com credores.

Bernini, que já foi presidente da AES Eletropaulo, disse que o problema de caixa das distribuidoras é agravado pelo ambiente econômico do país, que torna o crédito mais caro e dificulta a gestão do caixa pelas empresas.

"Os comitês de crédito (de bancos) estão muito mais rigorosos diante desse quadro de riscos que o cenário macroeconômico apresenta, sem contar que o setor financeiro ficou muito exposto ao setor elétrico", apontou.

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