05/09/2016 13:33:00 - Atualizado em 05/09/2016 13:37:00

Juíza critica meritocracia e viraliza na web: "naturaliza a pobreza"

Redação RedeTV!

(Foto: Reprodução/Facebook)

A juíza Fernanda Orsomarzo, que trabalha no Tribuna de Justiça do Paraná, viralizou nas redes sociais ao publicar um texto para criticar a meritocracia.

Ela, que reforça ser branca e de família de classe média, diz que não é certo acreditar que as pessoas chegam a algum lugar apenas por mérito. Afinal, em suas palavras: " Todos enfrentam dificuldades e desafios. Porém, enquanto para alguns esses entraves não passam de meras pedras no caminho, para outros a vida em si é uma pedra no caminho".

Assim, Fernanda afirma considerar que o mérito de suas conquistas não é dela. "Na linha da corrida em busca do sucesso e realização, eu saí na frente desde que nasci. Não é justo, não é honesto exigir que um garoto que sequer tem professores pagos pelo Estado entre nessa competição em iguais condições. Nunca, jamais estivemos em iguais condições".

Ela ainda termina dizendo que o discurso da meritocracia "naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento – quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou".

O ponto de vista da juíza dividiu internautas, que apoiaram e pediram mais pessoas como Fernanda, mas também criticaram o posicionamento dela e, inclusive, a mandaram "doar o salário se acha uma injustiça outras pessoas não terem tido as mesmas condições" que ela teve.

Provocando reflexões, o post alcançou mais de 57 mil curtidas e foi compartilhado quase 20 mil vezes desde 30 de agosto, quando foi publicado no Facebook.

Leia a íntegra:

"Ralei duro para ser Juíza de Direito. Cheguei a estudar 12 horas por dia em busca da concretização do tão almejado sonho. Abdiquei de festas, passei feriados em frente aos livros, perdi momentos únicos em família. Sim, o esforço pessoal contou. Mas dizer que isso é mérito meu soa, no mínimo, hipócrita. 

Em primeiro lugar, nasci branca. Faço parte de uma típica família de classe média. Estudei em escola particular, frequentei cursos de inglês e informática, tive acesso a filmes e livros. Contei com pais presentes e preocupados com a minha formação. Jamais me faltou café da manhã, almoço e jantar. Nunca me preocupei com merenda ou material escolar. 

Todos têm suas lutas e histórias de vida. Todos enfrentam dificuldades e desafios. Porém, enquanto para alguns esses entraves não passam de meras pedras no caminho, para outros a vida em si é uma pedra no caminho. 

Meu esforço individual contou, mas eu nada seria sem as inúmeras oportunidades proporcionadas pelo fato de ter nascido – repito – branca e no seio de uma família de classe média minimamente estruturada. 

O mérito não é meu. Na linha da corrida em busca do sucesso e realização, eu saí na frente desde que nasci. Não é justo, não é honesto exigir que um garoto que sequer tem professores pagos pelo Estado entre nessa competição em iguais condições. Nunca, jamais estivemos em iguais condições. 

O discurso embasado na meritocracia desresponsabiliza o Estado e joga nos ombros do indivíduo todo o peso de sua omissão e da falta de políticas públicas. A meritocracia naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento – quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou."

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