30/11/2017 14:23:00 - Atualizado em 01/12/2017 10:03:00

Lagosta com lata de refrigerante "tatuada" chama atenção para descarte de lixo no oceano

Sara Oliveira/RedeTV!

(Foto: Karissa Lindstrand/Reprodução)

Uma foto de uma lagosta com uma marca de refrigerante "tatuada" na garra trouxe à tona o debate sobre os impactos do lixo nos oceanos.

Capturada por um grupo de pescadores nas águas da região da ilha de Grand Manan, em New Brunswick (Canadá), na semana passada, a lagosta foi notada por Karissa Lindstrand, que trabalhava imobilizando os crustáceos no barco. Ao ver as cores incomuns para o animal, a mulher reconheceu a identidade visual de primeira: tratava-se de uma imagem de uma latinha de Pepsi gravada na carapaça do animal.

"Inicialmente fiquei: ah, é uma latinha", conta Karissa ao jornal The Guardian, acrescentando que percebeu o engano ao olhar com mais atenção: "Parecia que era uma impressão feita diretamente sobre a garra de lagosta".

Em meio a várias teorias sobre o que pode ter acontecido, Karissa diz acreditar que a "tatuagem" foi efeito do contato do animal com algum tipo de material com a imagem, mas continua confusa com as possibilidades.

"Ainda estou tentando decifrar o que realmente é", explica a mulher, que diz consumir cerca de 10 latinhas do refrigerante por dia. "Nós não vemos flutuando quando estamos em alto mar, mas vejo ao longo das costas. É a primeira vez que vejo algo assim, e é bem legal. Ruim, mas legal".

O destino do crustáceo ainda é incerto, mas, se depender do capitão do navio, ela deverá ficar na vitrine de um restaurante - ao lado de uma rara lagosta translúcida encontrada na mesma região.

Impacto ambiental

Para o professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo), a imagem reflete o impacto dos erros ao descartar lixo. "No caso da lagosta, ela está com um rótulo de uma marca - no caso da Pepsi, mas podia ser da Coca-Cola ou qualquer outro tipo de produto", pontua o professor em entrevista por telefone ao portal da RedeTV!. "Quando você vê a marca de um produto no meio ambiente, isso afeta diretamente a empresa, pois relacionam que ela está produzindo lixo, mas não: foi alguém que consumiu e descartou incorretamente".

O professor ainda explica que o descarte de plástico no oceano causa danos comprovados aos animais. "São vários tipos de resíduos que encontram no mar, mas dentre eles o que mais predomina são os plásticos, que são duráveis, mas que, quando chegam no ambiente marinho - onde não devem estar e ninguém deseja que esteja - causam problemas e duram", esclarece. "Quando fragmentam, então, geram microplásticos. A maioria das aves marinhas já apareceu com registro de ingestão de microplástico, tartarugas também; e quanto menor o item, mais organismo podem ingeri-lo. Hoje, 75% dos mexilhões de Santos [litoral de SP] tem alguma fibra plástica no organismo", completa, enfatizando que o estudo ainda precisa ser consolidado, mas já dá uma ideia do impacto ambiental na região. 

Turra ainda destaca que este é um problema complexo. "De antemão não se assume que a poluição nos oceanos seja deliberada, mas fruto de uma série de descuidos que precisam ser reparados", aponta. "Um grande desafio é mostrar para as pessoas que é um assunto muito complexo e que o lixo é apenas a ponta do iceberg - é só o que você vê".

Outro agravante, segundo o professor, é o consumo exagerado. Contra isso, ele sugere soluções individuais no dia a dia como reutilização de embalagens: "Podemos tomar decisões sobre como usar determinados produtos: um copinho plástico, por exemplo, pode ser reutilizado várias vezes - não necessariamente precisa ir direto para lixeira".

Discussões sobre o meio ambiente

Representante brasileiro na Assembleia Ambiental da ONU para o Meio Ambiente, que ocorrerá em Nairóbi de 4 a 6 de dezembro, o professor comentou sobre a campanha Mares Limpos, que tem o objetivo de eliminar uma grande quantidade de lixo dos oceanos até 2022. Em junho, o Brasil declarou apoio e juntou-se a outros 30 países na ação contra a poluição.

Para o professor, esse é um dos caminhos para solução, que envolve todos os setores da sociedade. "Toda a cadeia produtora que envolve os itens plásticos tem que ser envolvida no debate para encontrar uma solução. É uma questão complexa, e o que é decidido aqui é levado para cada país", afirma. "É fundamental que exerçamos esse poder de protagonistas, pois esse é um caminho que temos que trilhar com todos os atores: cidadãos, governos, empresas e ongs. Precisamos caminhar juntos e produzir ganhos para a sociedade e pro mar nos próximos anos".

Veja também: Cientistas flagram peixe jamais visto anteriormente nos oceanos

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