14/09/2015 08:29:00 - Atualizado em 21/09/2015 16:19:00

Pessoas com deficiência lutam por representatividade na moda

Sara Oliveira/Redação RedeTV!

As modelos Madeline Stuart e Rebekah Marine, nos EUA, e Caroline Marques, no Brasil (Foto: REUTERS/Kica de Castro)

Enquanto duas modelos com diferentes deficiências desfilaram durante a semana de moda nova-iorquina (NYFW, na sigla em inglês), brasileiros e brasileiras que sonham estar nas passarelas ou em frente às câmeras lutam por espaço e igualdade.

No Brasil, 6,2% da população tem algum tipo de deficiência, segundo dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística). Uma parcela da sociedade que, de forma lenta, vai começando a ganhar voz e representatividade.

"A moda vem dando espaço para nós, profissionais com deficiência, de forma tímida, mas pelo menos não somos mais invisíveis", afirma Caroline Marques, modelo e Miss Brasil Cadeirante (2015), em conversa com o portal da RedeTV!.

Paraplégica após sofrer um acidente em 1991, Caroline insistiu no sonho de tornar-se modelo. Hoje em dia faz parte do casting de uma agência especializada na inclusão.

Em 2011, a modelo foi chamada para uma ação de marketing no SPFW (São Paulo Fashion Week). Desfilou somente na passarela externa do evento, sem representar nenhuma grife. "Infelizmente o SPFW segue muito o que a mídia dita como único padrão de beleza. Esquecem que moda é um produto e como tal precisa ser consumido", lamenta. "Isso é uma profissão, então, por que não ter nós nas passarelas, visto que o NYFW, por exemplo, tem pessoas com deficiência desfilando há anos".

Caroline ainda conta que participa bastante de eventos  feitos especialmente para mostrar as pessoas com deficiência e também de concursos de moda em universidades que estimulam os futuros estilistas a pensar na inclusão.

A Miss Cadeirante destaca que essa batalha não é apenas por uma oportunidade de emprego, mas por igualdade. "Não quero estar na passarela por conta de uma cota, ou para empresa sair de boazinha por fazer inclusão. Só quero que as pessoas olhem com igualdade, a cadeira de rodas é só um detalhe. Eu estudei, batalho para ser uma boa profissional, só quero espaço para poder trabalhar, mostrar sempre que somos capazes".

Beleza e deficiência juntas

A modelo Carolina Vieira, que é paraplégica e faz parte da agência (Foto: Kica de Castro)

Ao lado de outras 82 pessoas, Caroline integra o casting de uma agência brasileira que trabalha pela inclusão através da moda. Ao portal da RedeTV!, a fotógrafa Kica de Castro, criadora da agência que leva seu nome, falou sobre a empresa e o olhar do mercado para esses profissionais - homens e mulheres pelo País. (veja mais fotos abaixo)

Kica afirma que percebe a mudança, mas que ela não acontece sozinha. "São necessárias muitas ações para que as pessoas realmente vejam que beleza e deficiência não são palavras opostas. O preconceito existe, mas ele não é 100% culpado", garante.

"Já temos profissionais, em pouca escala, atuando no mercado. Muitas empresas estão investindo na moda inclusiva, que é fazer roupas com adaptações que facilitem o vestir e despir de pessoas com deficiência. São poucas, mas já existem referências de modelos com destaque e empresas investindo nesses milhões de consumidores com algum tipo de deficiência", comemora.

Kica explica que apesar de tentar romper os padrões, alguns pontos são imprescindiveis para quem quer se tornar modelo. Para esse mercado é fundamental ser fotogênico, ter boa expressão corporal e saber cuidar da imagem. As regras são as mesmas", esclarece. "Os clientes sabem que não estão em contato com coitadinhos ou heróis, mas pessoas que querem um espaço de igual para igual no mercado de trabalho", finaliza.

A reportagem da RedeTV! tentou falar com duas grandes agências nacionais sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência, mas não obteve nenhum posicionamento.

Mudança de fora para dentro

Madeline e Rebekah nos bastidores do desfile (Foto: Reprodução/Instagram/madelinesmodelling_)

Os indicios de que a moda pode estar mais aberta estão em modelos como Rebekah Marine e Madeline Stuart. Rebekah, de 28 anos, é conhecida como "modelo biônica" por ter nascido sem o antebraço direito. Já a australiana Madeline, de 18 anos, tem síndrome de Down. Ambas desfilaram no domingo (13), representando não somente alguma marca de roupas, mas também uma parcela da população.

O sucesso de Madeline é recente. Ainda desconhecida, a jovem tornou-se sensação na internet após fazer um ensaio fotográfico, publicado em uma rede social, e contar ao mundo seu sonho de ser modelo. A resposta não demorou. Dois meses depois, a australiana havia assinado contrato com uma marca de roupas. Quatro meses depois chegou às passarelas de um grande evento. 

Em conversa com o portal da RedeTV!, Rosanne Stuart, mãe de Madeline, conta que a filha está amando toda a atenção e tem recebido muito apoio de todos. Para ela, a oportunidade de desfilar na NYFW é valiosa. "Eu acho que isso já mudou e continuará mudando a perspectiva da sociedade sobre as pessoas com deficiência - por isso é tão importante e bonito", afirma. 

Desde que se lançou no mundo da moda, após divulgar um ensaio fotográfico na internet em 2014, a australiana fechou contrato com uma marca de roupas, é a primeira pessoa com síndrome de Down a estampar uma campanha de cosméticos e tem uma bolsa que leva seu nome - o valor arrecado com as venda é doado a uma associação norte-americana que trabalha para a inclusão de portadores da síndrome na sociedade.

Após conquistar as passarelas em Nova York, a australiana já bolou novos planos. "Madeline quer lançar sua própria linha de calças legging e um livro de estilo de vida saudável", conta a mãe. "Ela também quer modelar em Milão e Tóquio, para onde ela vai no ano que vem". 

Falando sobre a diversidade no mundo da moda em outros países, a modelo e apresentadora do Chega Mais, da RedeTV!, Renata Kuerten, diz acreditar que o Brasil ainda não amadureceu o suficiente para ver que, no fundo, somos todos iguais.  “As pessoas meio que 'viajam' com isso de rotular as pessoas. É bom acontecer isso lá [o desfile de Madeline nos EUA] para as pessoas começarem a se conscientizar por aqui".

Veja imagens do desfile de Madeline e Rebekah:

Madeline no desfile realizado neste domingo em Nova York (Foto: REUTERS)

Madeline no desfile realizado neste domingo em Nova York (Foto: REUTERS)

Rebekah desfila durante a Semana de Moda Nova-Iorquina neste domingo (Foto: REUTERS)

Rebekah desfila durante a Semana de Moda Nova-Iorquina neste domingo (Foto: REUTERS)

Veja imagens dos modelos da agência de Kica de Castro:

O modelo Cassio Sgorbiss (Foto: Kica de Castro)

A modelo Paula Ferrari (Foto: Kica de Castro)

A modelo Carina Queiroz (Foto: Kica de Castro)

A modelo Maraisa Proença (Foto: Kica de Castro)

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