Greve de garis deixa 130 cidades com lixo na rua
Caio do Valle e Felipe Resk/Agência EstadoEm Santo André, a Polícia Militar interveio para que oito caminhões pudessem sair do aterro da cidade. Os veículos trabalharam sob escolta da Guarda Civil Municipal (GCM). O município produz 650 toneladas de resíduos diariamente, mas só foram coletadas cerca de 138 toneladas, do início da greve até as 16h15 de quinta-feira, 26. A estimativa, portanto, é que, pelo menos, 2,1 mil toneladas não tenham sido recolhidas. O resultado é visível nas ruas e calçadas, cheias de sacos de lixo e sujeira.
"A gente já está guardando resto de comida no freezer para não cheirar mal ainda mais", afirma a vendedora Maria Melo, de 42 anos, que também reclama do aumento de mosquitos nos últimos dias. Já para o estoquista Raul Ribeiro, de 24 anos, a maior preocupação é com a possibilidade de enchentes. "Quando chove, o lixo entope os bueiros e a água entra na casa das pessoas. Alaga tudo."
Os garis reivindicam reajuste salarial de 11,73%, mas a proposta da entidade patronal é de 7,68%. A audiência de reconciliação, feita anteontem, terminou sem acordo. "Estamos buscando a dignidade dos trabalhadores", disse Roberto Santiago, presidente da Federação dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação Ambiental, Urbana e Áreas Verdes do Estado de São Paulo (Femaco).
Em Diadema, a prefeitura lançou uma força-tarefa para reduzir os impactos da greve. Durante a manhã de ontem, foram recolhidas 8,4 toneladas de lixo domiciliar. A quantidade, no entanto, é bem inferior à produzida: 230 toneladas por dia.
Moradores da Rua Afonso Pena, no Jardim Promissão, protestaram contra a situação na noite de anteontem, jogando sacos de lixo na rua. O material foi recolhido pela manhã. Ainda assim a sujeira continua espalhada pela cidade. "O lixo está em todo lugar", reclamou a dona de casa Nice Santana, de 47 anos. O taxista Josimar Silva, de 45, trabalha no centro de Diadema e disse que os montes de sacos de lixo ainda estão organizados, mas vêm crescendo a cada dia.
Pedido por telefone
Em São Caetano, a prefeitura fez telefonemas para alertar moradores sobre as consequências da paralisação. Pede-se que os sacos de lixo não sejam depositados na rua até o fim da greve.
Como São Paulo e Campinas, duas das maiores cidades do Estado, têm data-base de negociação salarial em setembro, seus profissionais não aderiram à paralisação.
Patrões
O Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo (Selur) acusa sindicatos de trabalhadores de estarem descumprindo ordem da Justiça para manter em operação 70% da frota de coleta de lixo. O principal problema estaria em São Bernardo do Campo, com piquetes de sindicalistas, afirma o Selur. "Em Santo André, Diadema, Mauá, São Caetano e Rio Grande da Serra, a situação é caótica, tendendo a agravar-se", diz a nota oficial. "Também há ocorrência de agressões, depredação de caminhões e recusa na coleta até dos resíduos hospitalares". A Femaco nega.