20/05/2016 16:49:00 - Atualizado em 21/05/2016 12:09:00

Fotógrafo registra vida atrás das grades em penitenciária do PR

Sara Oliveira/RedeTV!

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

Depois de enfrentar seis meses de muita burocracia, o fotógrafo Milcho Pipin, que nasceu na Macedônia e vive em Curitiba (PR) há seis anos, conseguiu permissão para registrar a vida dos residentes da Penitenciária Central do Estado do Paraná.

Sua inspiração para o fotografar a vida na prisão veio muito antes, por influência dos casos contados pelo pai, um ex-inspetor de polícia no país da península balcânica. "A noção de compreensão dele em relação a todas as classes sociais me inspirou", conta ele em entrevista ao portal da RedeTV!. "Passei anos observando sua carreira e ouvindo histórias das pessoas presas no país por crimes internacionais, e me senti instigado a fotografar essa realidade".

Com toda a documentação necessária, Pipin e o criminalista Dr. Prof. Maurício Stegemann Dieter, que registrou depoimentos de detentos - homens e mulheres com penas variadas por diferentes infrações -, puderam adentrar os muros da penitenciária, emjunho de 2014, para criar o impactante projeto, intitulado "Locked Up" (Trancado, na tradução do inglês).

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

Os dois, ele conta, foram os primeiros profissionais de mídia a ter a entrada permitida no local nos últimos 40 anos. "Lá dentro fomos acompanhados por agentes o tempo todo, existem muitas regras a serem seguidas. Entramos somente com o equipamento fotográfico e, obviamente, passamos por todos os processos de revista em qualquer entrada e saída", relembra Pipin.

Ele afirma que, apesar desse hiato de visitas de profissionais da comunicação no presídio, foram muito bem recebidos pela equipe do local, a quem ele agradece pela colaboração. "Os funcionários nos ajudaram bastante e o clima entre nós era bem amigável. Agradeço a eles pela colaboração", diz ele.

Para o fotógrafo, os cinco dias encarcerado, das primeiras horas da manhã até as últimas da noite, foram transformadores. "O projeto todo foi muito impactante. Mesmo sabendo dos crimes que cometeram, quando você está lá dentro pela primeira vez é impossível não vê-los como simples seres humanos privados de liberdade", explica. "Tentei não criar expectativas. Na hora que entramos, a primeira impressão foi ser tudo com muitas regras, disciplina, muitas grades e algemas e um clima de tristeza. Me lembro bem do cheiro... uma mistura do odor da pele do ser humano e sabão de limão", completa.

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

Ele destaca que o ponto mais marcante de toda essa experiência foi, com certeza, deparar com mães que vivem na prisão com seus bebês. "É uma tristeza ver mulheres com bebês tentando desempenhar um papel de mãe mesmo dentro de uma cela", analisa. "Pelo que nos informaram os bebês ficam com elas até os 6 meses. Depois disso, ficam por até 4 horas por dia e, caso a família não tenha condições de criá-los, o serviço social é quem faz. Apesar da situação, aparentavam estar calmas e conformadas".

Para ele, o clima ali dentro era de calma - até porque o projeto começou pouco depois do fim de uma grande rebelião - mas outras sensações ainda rondavam o ambiente. "Percebemos momentos íntimos de tristeza, desespero, confusão, frustração e raiva", relembra.

Entre os depoimentos registrados por Dieter, conclusões sobre a liberdade e o cárcere. "Por incrível que pareça, nunca me senti tão livre em toda minha vida", declarou Janine Cardoso Soares - condenada a nove anos de prisão. 

"Antes aqui do que a morte; aqui há tempo para uma nova vida", disse Jhonathan Rodrigo de Jesus, que não quis informar seu tempo de pena. Além das fotos e das histórias por trás delas, a experiência ainda foi transcrita em forma de poesia pela poeta londrina Lydija Nikolova

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

A imersão nessa realidade de quem teve a liberdade suspensa mudou a visão de mundo do fotógrafo, que, em seu primeiro projeto do tipo, não tinha ideia do que iria encontrar lá. "Foi muito desafiador e impactante para mim. Interagir com os presidiários, escutar suas histórias e estar cercado por cercas elétricas foi realmente indescritível e posso dizer que até surreal em alguns momentos", observa ele. "Como a maioria das pessoas, não tinha ideia de como é a vida dentro de uma penitenciária aqui no Brasil. Depois dessa experiência, eu definitivamente dou muito mais valor a minha liberdade", complementa. 

Para o pai dele, que viu tantas histórias de presidiários durante a vida, as imagens registradas pelo filho representam os destinos de cada um. Pipin relembra as palavras exatas dele: "Cada um deles, mesmo tendo cometido um ato criminoso, ainda têm sua dignidade como ser humano. Eles pagam pelos atos cometidos e, um dia, a maioria será encaixada novamente no sistema social. Para os presos, o presídio acaba sendo a grande escola da vida".

Apesar de todo o processo para conseguir acesso à prisão ser bastante burocrático, Pipin cogita a possibilidade de dar continuidade ao projeto. 

Por enquanto, ele pretende que as fotos registradas no presídio de Curitiba deem um novo ponto de vista para quem vê a situação carcerária de fora. "Espero que as pessoas, além de visualizarem as fotos, possam também, de uma maneira construtiva, perceber que todos nós, pessoas de boa fé, corremos o risco de praticarmos uma infração penal a todo instante e em qualquer lugar, mesmo que involuntariamente", ressalta. "Seja num momento de negligência, numa imprudência no trânsito, num momento de fúria em uma discussão, numa omissão de socorro, etc. A liberdade deve ser sempre muito apreciada e nunca tida como garantida. É uma daquelas coisas que não damos o devido valor até perdermos", conclui.

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

(Foto: Arquivo Pessoal/Milcho Pipin)

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Todos os direitos reservados © Milcho Pipin. É proibido o uso destas fotos sem a autorização do autor.

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