17/05/2016 08:56:00 - Atualizado em 12/05/2017 10:10:00

Entenda o que leva uma pessoa a se apaixonar por um assassino

Sara Oliveira/RedeTV!

Suzane (à esq.), o vigilante Tiago Henrique e Charles Manson (Foto: Reprodução/Aline Caetano/ Tribunal de Justiça do Estado de Goiás/California Department of Corrections)

Casos de pessoas que se apaixonaram e se envolveram com assassinos condenados ou serial killers são comuns pelo mundo.

Nos Estados Unidos, o romance do assassino em série Charles Manson, de 81 anos, com uma fã de 26 anos com quem pretendia se casar na cadeia. No Brasil, o mesmo interesse por autores de crimes brutais, entre eles: o maníaco do parque, que recebeu mais de mil cartas por mês na prisão e casou-se com uma mulher que conheceu por meio de correspondências, e o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, acusado de uma série de mortes em Goiânia, e que, segundo sua advogada, também teria recebido visitas e cartas de admiradoras.

Essas histórias somadas ao segundo noivado de Suzane von Richthofen, condenada a 38 anos e seis meses de prisão por matar os pais em 2002, e ao casamento do ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado a 22 anos pela morte da ex-amante Eliza Samudio, levanta duas questões: por que alguém se apaixona e mantém uma relação amorosa com um assassino? 

Bruno e a dentista carioca Ingrid Calheiros, com quem se casou no último sábado (18) (Foto: Reprodução/RedeTV!)

Para a criminóloga e escritora Ilana Casoy, autora da série de livros "Serial Killers" e "O Quinto Mandamento", "cada caso é um caso", mas uma explicação a essa pergunta seria o fato dessas pessoas viverem a versão criada pela mente delas, ignorando a realidade e, assim, os crimes cometidos pelo parceiro/parceira. 

Ainda no histórico amoroso de Suzane, que contou com a ajuda do namorado na morte dos pais, um casamento na prisão com Sandra Regina Gomes, que cumpria pena por sequestro e morte de um adolescente, e o atual relacionamento com o empresário Rogério Olberg, de 37 anos, com quem ela passou o domingo de Dia de Mães.

A escritora vê o compromisso de Suzane, que foi apresentada ao namorado evangélico por uma detenta, como algo que demorou a acontecer e destaca que, mesmo a tolerância da religião dele ajudando na aproximação, nunca se sabe que história ela contou a ele. "A pessoa, mais apaixonada pelo que está vivendo do que pelo outro, acaba deixando o crime para lá. Ela desvincula isso da pessoa e passa a viver com as outras facetas desse indivíduo", explica ela em entrevista ao portal da RedeTV!.

Segundo Ilana, outro caso que exemplifica essa situação é de Francisco de Assis Pereira, o maníaco do parque - condenado a 147 anos de prisão pela morte de dez mulheres e pelo estupro de outras nove -, que se casou com uma mulher que conheceu por meio de cartas trocadas de dentro da prisão.

Pereira começou a se relacionar com uma catarinense, identificada como Jussara, a quem apresentou suas outras facetas e jamais citou nenhum de seus crimes. Por sua vez, a mulher mentiu a própria idade - ela dizia ter 40, quando tinha na verdade 60 anos. Ainda assim, os dois se casaram na prisão anos depois. "Essa é uma relação em que ninguém falava muito a realidade. Cada um viveu sua própria fantasia de amor", analisa a criminóloga.

Na época, eles pediram direito à visita íntima, o que foi negado após ficar constatado que Jussara não tinha conhecimento profundo dos crimes praticados pelo marido e, dessa forma, não estava ciente dos riscos. "Ela sabia superficialmente, não queria detalhes. Enxergava ele de outra maneira", explica Ilana.

Para a psicóloga forense Maria Adelaide Freitas Caires, autora de "Psicologia jurídica: implicações conceituais e aplicações práticas", essas pessoas muitas vezes são vítimas de relacionamentos abusivos e identificam nesses criminosos algo que remete ao que já é conhecido: a violência da intolerância e da dominação. "Para elas, o amor é essa representação de alguém que transgride a liberdade do outro. Por isso que a maioria da sociedade não entende e acha que, por exemplo, ela deve gostar de apanhar", explica Adelaide ao portal da RedeTV!. "É uma coisa muito inconsciente, que a torna prisioneira do próprio universo", acrescenta.

Além de viver na própria realidade ou como vítima das sombras de algum relacionamento anterior, outros motivos que podem levar a uma relação com preso por um crime brutal são, segundo Ilana, a notoriedade, a crença de que irá "curar" a pessoa exercendo sua religião e, principalmente, o controle. "Manter um relacionamento com quem está atrás das grades possibilita um controle que é difícil com alguém em liberdade", analisa. "É bem diferente do mundo real, tanto que muitos desses casamentos funcionam melhor na prisão e acabam com o fim da pena".

Por fim, Ilana ainda levanta outra hipótese: a de que relacionamentos entre um condenado e alguém sem ficha criminal pode demonstrar uma vontade de cometer alguma transgressão. Ou seja, seria baseado pelo fascínio por pessoas "que não tiveram coragem de cruzar a linha e não tiveram medo", mas que, por isso, acabaram presas.

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