10/02/2015 10:06:00 - Atualizado em 28/10/2015 19:42:00

Conta de água do Palácio dos Bandeirantes sobe 13,4%

Por Luís Adorno/RedeTV!

Consulta feita no site da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de SP) mostra que a Secretaria Estadual da Casa Civil - que inclui o Palácio dos Bandeirantes, onde o governador Geraldo Alckmin (PSDB) mora com a família - não reduziu o consumo de água, apesar da crise de abastecimento. O valor passou de R$ 19,4 mil para R$ 22 mil, nos meses de referência de fevereiro e março deste ano. Ou seja, houve um aumento de 13,4% no consumo.

A Sabesp afirmou que não vai se manifestar sobre o assunto. Procurada, a assessoria do governo diz que a conta de fevereiro é referente a dezembro de 2014 e a de março, referente a janeiro de 2015. Após a veiculação da reportagem, a assessoria de imprensa do governo estadual criticou o recorte feito pela reportagem do portal da RedeTV!.  

“A reportagem “Conta de água do Palácio dos Bandeirantes sobe 13,4%” erra ao reproduzir a comparação equivocada sobre o consumo de água no Palácio dos Bandeirantes”, afirma em comunicado oficial. Segundo a posição do governo, se um período maior de tempo for analisado com os valores da conta de água do local, será detectada redução de consumo.

O governo estadual anunciou em dezembro de 2014 uma multa, valendo a partir de 1º de janeiro deste ano, para quem aumentasse o consumo de água. Em uma coletiva de imprensa, Alckmin explicou que o aumento seria da seguinte maneira: quem consumisse até 20% a mais, pagaria 20% a mais, e quem gastasse mais do que 20% teria um aumento na conta de 50%. O percentual seria calculado com base na média de fevereiro de 2013 até janeiro de 2014.

Enquanto isso, o governador tucano continua negando, desde o ano passado, que haja racionamento de água em São Paulo. Nas eleições de 2014, quando Geraldo Alckmin foi reeleito no primeiro turno, com 57% dos votos, ele passou toda a campanha afirmando que não havia e que nem existia a possibilidade de ter racionamento de água no Estado. 

No dia 14 de janeiro deste ano, porém, Alckmin assumiu pela primeira vez a falta de água nas casas e comércios de São Paulo. Entretanto, de maneira estratégica. “O racionamento já existe. Quando a ANA (Agência Nacional de Água) determina que você tem que reduzir de 33 para 17 [metros cúbicos por segundo] no Cantareira, é óbvio que você já está em restrição”, afirmou na saída de um evento.

Um dia antes da afirmação, no dia 13 de janeiro, a Justiça havia proibido a multa por aumento no consumo de água que o governo impôs. A justificativa era de que, para a multa existir, seria necessário assumir o racionamento de água. No dia 15 de janeiro, após Alckmin ter dito que “o racionamento já existe” à imprensa e a Justiça ter suspendido a proibição da multa por causa da declaração, ele voltou atrás e afirmou que foi “mal compreendido”.

Apesar das negativas oficiais do Estado, o diretor da Sabesp Paulo Massato chegou a afirmar, em 27 de janeiro, que São Paulo pode passar por um “racionamento drástico”, em que, se não chover, deve ser adotado um rodízio de cinco dias sem água e dois com abastecimento. 

Confira a consulta feita no site da Sabesp:

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Falta de água em São Paulo

A briga política fica de um lado, e a população, principalmente moradora da periferia, de outro. O aposentado Ítalo Severino, de 69 anos, morador do Imirim, na zona norte de São Paulo, afirma que falta água na casa dele desde setembro de 2014. “À noite eu já acostumei a não ter água em casa. A gente precisa ir se adaptando”, diz.

A costureira Luiza Vaz, de 64 anos, moradora do Jardim Romano, na zona leste, revela que tem que escolher entre tomar banho ou lavar a roupa. “Meu neto foi tomar banho e, do nada, acabou a água. Foi então que me lembrei que tinha lavado roupa no mesmo dia. Desde então, quando eu lavo roupa, vou na casa da minha filha, em São Miguel Paulista, tomar banho”, afirma.

Morador do Capão Redondo, na zona sul, o vendedor Vágner Silva, de 24 anos, também diz que em sua casa falta água. “É um absurdo não assumir de uma vez o racionamento. Já está ruim agora, com pouca água, imagina sem nada. Não quero nem pensar.”

A técnica em enfermagem Cláudia Marques, de 41 anos, moradora de Pirituba, na zona oeste, também relata falta de água. “Antes, no ano passado, acabava geralmente às 22h e voltava só no dia seguinte. Agora, não tem mais horário“, relata.

Falta de investimento em represas

Enquanto as contas de água dos governos estadual e municipal sobem, o investimento acordado em 1994 entre prefeitura, Estado e governo federal para despoluir as represas Billings e Guarapiranga caminha devagar. As 64 obras do “Programa Mananciais”, que previam a instalação de redes de esgoto, despoluição de córregos e reflorescimento das margens, estão paralisadas há quase três anos. Juntas, as represas abastecem 4,5 milhões de pessoas, apesar de a maior parte da Billings estar poluída.

Em 2012, último ano da gestão Gilberto Kassab (PSD), e em 2013 e 2014, primeiros dois anos de Haddad à frente da prefeitura, foram gastos R$ 458 milhões nessas obras. No entanto, havia R$ 2,62 bilhões reservados para o Programa Mananciais, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão.

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