09/01/2016 21:22:00 - Atualizado em 12/01/2016 21:19:00

Consumo de água do Palácio dos Bandeirantes sobe 28,5% em um ano

Por Luís Adorno/RedeTV!


Histórico do consumo de água da Casa Civil de São Paulo (Foto: Reprodução/Sabesp)

O consumo de água da Secretaria Estadual da Casa Civil de São Paulo cresceu 28,5% em dezembro. É o que indica uma comparação entre as contas de fevereiro do ano passado e a do mês que vem, à qual o portal da RedeTV! teve acesso, com exclusividade. Ambas se referem ao último mês do ano. O gasto da Casa Civil inclui o do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista e local de moradia da família do governador Geraldo Alckmin (PSDB). De um ano para o outro, o consumo da secretaria saltou de 1049 para 1349 metros cúbicos de água.

A conta de água do governador ficou ainda mais salgada. Subiu 54,6%. De R$ 19,4 mil, no ano passado, o governo terá que desembolsar, até 23 de fevereiro,  data do vencimento, nada menos que R$ 30.099,36. É o maior valor mensal a ser pago, desde que a crise hídrica no Estado se agravou.

Ainda assim, o consumo da secretaria permanece abaixo dos níveis de economia fixados pela Sabesp (Companhia da Saneamento Básico de SP). De acordo com o Governo do Estado de São Paulo, "a média do consumo em 2013 foi de 1.784 m³, por mês. No ano seguinte, o consumo médio foi de 1.459 m³. Em 2015, essa média chegou a 1.252 m³". Em nota, o governo afirma que "o consumo foi 14,36% abaixo da meta estabelecida pela empresa, o que garantiu ao Palácio dos Bandeirantes obter o bônus por economia no consumo".

O Palácio dos Bandeirantes adotou uma série de mudanças durante a crise hídrica para economizar água. Medidas como a instalação de válvulas, dispositivos limitadores, temporizadores, arejadores de saída d'água, substituição de boias e sensores de volume de água, troca de tubulações e encanamentos antigos, e construção de reservatórios para captação da água da chuva foram tomadas.

O governo informou que houve, também, um ganho com a implementação do Pura (Programa de Uso Racional da Água). "São realizadas diversas campanhas educativas entre os funcionários, que foram orientados a utilizar menos água", diz em nota.

Análise estatística

Em 10 de fevereiro de 2015, o portal da RedeTV! revelou que o valor da conta de água da sede da secretaria da Casa Civil havia subido 13,4% - de R$ 19,4 mil, em fevereiro, para R$ 22 mil, em março. Em um comunicado oficial, o governo rebateu a reportagem afirmando que a comparação era "equivocada": "a reportagem despreza um dos mais basilares princípios da análise estatística que diz que as comparações devem ser feitas de forma sazonal, ou seja, um período deve ser comparado sempre com o mesmo período do ano anterior ou posterior".

Multa e racionamento

No começo de 2015, o governo estadual passou a multar quem aumentasse o consumo de água. Alckmin explicou que quem consumisse até 20% a mais, pagaria 20% a mais, e quem gastasse além de 20%, teria um aumento de 50% na conta. O percentual seria calculado com base na média de consumo entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. 

No dia 14 de janeiro de 2015, porém, Alckmin assumiu pela primeira - e única - vez a falta de água nas casas e comércios de São Paulo. Entretanto, de maneira estratégica. "O racionamento já existe. Quando a ANA (Agência Nacional de Água) determina que você tem que reduzir de 33 para 17 [metros cúbicos por segundo] no Cantareira, é óbvio que você já está em restrição", afirmou na saída de um evento.

Na véspera, a Justiça havia proibido a multa por aumento no consumo de água que o governo impôs. A justificativa era de que, para a multa existisse, seria necessário assumir o racionamento de água. No dia seguinte, após Alckmin ter dito que "o racionamento já existe" e a Justiça ter suspendido a proibição da multa por causa da declaração, ele voltou atrás e afirmou que foi "mal compreendido".

Moradores da periferia

No ano passado, a reportagem do portal da RedeTV! conversou com quatro moradores da periferia, dos quatro cantos da cidade. Todos reclamavam de falta de água em suas casas. Agora, voltamos a entrar em contato para saber se a situação melhorou.

O aposentado Ítalo Severino, de 70 anos, morador do Imirim, na zona norte de São Paulo, diz que a situação melhorou, mas chegou outro problema. "Mais ou menos no segundo semestre de 2015 parou de faltar água. O problema é a água que chega. De manhã, tem muito cloro. Não dá pra fazer café", diz.

Já a costureira Luiza Vaz, 65, moradora do Jardim Romano, na zona leste, diz que continua faltando água em sua casa. "Quando minha filha chega do trabalho, não sabe se vai ter água no chuveiro. Então a gente continua enchendo os baldes. Tem dia que tem água, tem dia que não".

No Capão Redondo, na zona sul, o vendedor Vágner Silva, 25, diz que, às vezes, falta água entre 4h e 8h da manhã. "Agora a situação tá melhor, sim. Era um sufoco. Só na casa da minha mãe, que fica numa parte mais alta, que às vezes falta água. Aí ela vem pra cá. O bom é que ganho a comida de mãe (risos)".

A técnica em enfermagem Cláudia Marques, de 42 anos, moradora de Pirituba, na zona oeste, diz que todos os dias falta água a partir das 19h. "Teve uma melhora significativa com o aumento do nível da água das represas. Mas a gente continua sem (água), à noite. Aí volta lá pras 7h."

Nível dos reservatórios

Com o volume útil, que fica estocado no reservatório do Sistema Cantareira e que pode ser utilizado sem bombeamento, mais o volume morto, que só pode ser utilizado com bombeamento, o principal manancial da Grande São Paulo está com o nível de água em 32,2%. De acordo com a Sabesp, o Sistema Alto Tietê tem 25,1%; o Sistema Guarapiranga, 82,4%; o Sistema Alto Cotia, 91%; o Rio Grande, 92,2%; e o Rio Claro, 73,9%.

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