16/06/2016 18:36:00 - Atualizado em 16/06/2016 19:03:00

Primeiro técnico de Gabriel Jesus vislumbra atacante no Barcelona ou Real Madrid

André Lucena/RedeTV!

Foto antiga mostra Gabriel Jesus defendendo o Pequeninos do Meio Ambiente, cujo uniforme é verde e branco (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos assuntos mais comentados no Palmeiras é o futuro de Gabriel Jesus após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Embora a multa rescisória do atacante para o futebol estrangeiro seja de 40 milhões de euros (cerca de R$ 155 milhões), o novo contrato tem uma cláusula que o libera para Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique ou Paris Saint-Germain por 24 milhões de euros (R$ 93 milhões) na próxima janela de transferências. Para José Francisco Mamede, primeiro treinador do jogador no time chamado Pequeninos do Meio Ambiente, os gigantes espanhóis seriam a melhor escolha para o jovem de apenas 19 anos. "Eu o levaria para o Barça ou Real. O Barcelona já tem o Suárez e o Real tem o Cristiano Ronaldo. Dá para ele jogar muito bem com os dois".

Em 2005, aos 8 anos, Gabriel chegou à equipe que treina e joga em um campo localizado dentro do terreno do Presídio Militar Romão Gomes, no bairro do Tremembé, zona norte de São Paulo. Apelidado de 'Tetinha', ele ficou até 2012 quando, aos 14 anos, estourou a idade da categoria 'Dentão' e precisou parar de jogar no Pequeninos do Meio Ambiente. "Ele andou jogando na várzea, alguém viu e o levou para o Palmeiras", conta Mamede. Atualmente como diretor de esportes, ele afirma que a agremiação não recebeu nada do Verdão. "Nosso time não tem CNPJ, não é constituído. Não queremos pleitear nada. Não fomos atrás de nada. Nossa equipe existe para tirar criança da rua".

Palmeirense fanático, José Francisco Mamede acredita que Gabriel Jesus rende mais como centroavante. "A grande diferença e grande sacada do Cuca é usar o Gabriel como 9. Na época do Marcelo Oliveira ele estava se matando para marcar o lateral adversário e o Gabriel não é para fazer isso. Ele estava sendo prejudicado por esse modernismo que acho errado, de atacante marcar lateral", afirma ele.

"O Gabriel está um pouquinho afoito, perdido na cara do gol. Tenho certeza que ele será ainda melhor quando amadurecer. Ele sobe muito bem de cabeça, de peito e tem uma impulsão extraordinária", completa o treinador formado pela Cepeusp.

Mamede ainda guarda as 'carteirinhas' de Gabriel Jesus (Foto: Arquivo pessoal)

Mamede acredita que Gabriel Jesus será convocado para a seleção brasileira principal pois "Tite é seu fã número um". Ele afirma que o Palmeiras fez o certo ao renovar o contrato do atleta até o fim de 2019, mesmo o clube ficando apenas com 30% dos direitos econômicos do jogador e seus representantes com os outros 70%. "Os times grandes não podem pagar 200, 300 mil de salário para qualquer revelação. E se um, dois anos depois o cara não vinga? É preferível ganhar 30% de milhões do que 100% de nada", opina o treinador que citou como exemplo o ex-corintiano Lulinha.

"O Palmeiras infelizmente não manda no Gabriel Jesus, mas se eu fosse o clube seguraria ele por um ano como fez o Santos com o Neymar", diz Mamede, que comenta o orgulho do Pequeninos do Meio Ambiente com a matéria do jornal espanhol Sport que define o atacante como "um produto típico da fértil terra brasileira, em que surgem atacantes com imaginação, qualidade técnica e velocidade para jogar bem em quase todas as posições". 

"Já temos dois novos Gabriel. Um é o Daniel, centroavante que nasceu em 2001 e tem o estilo do Careca. O outro é o Anderson, de 1998, um pouco baixo, mas que parece o Iniesta pela inteligência. Nestes quase 30 anos que trabalho com futebol, nunca tive um jogador tão habilidoso como o Anderson", exalta José Francisco Mamede, que trabalha como despachante de segunda a sexta-feira e como diretor de esportes do Pequeninos do Meio Ambiente nos fins de semana.

Trabalho filantrópico

"O time é totalmente voluntário. Nunca cobramos nada das crianças. Cedemos uniforme e oferecemos todos os sábados lanches para eles. São 200 pães, 200 fatias de mortadela e algumas garrafas PET", conta Mamede, que fundou a agremiação que antes atuava no Horto Florestal.

Andorinha Hipermercado ajuda o Pequeninos com os pães, fatias de mortadela e garrafas de refrigerante (Foto: André Lucena/RedeTV!)

"Para nós é ótimo jogar em um campo numa área militar. Muitas vezes chegamos com as crianças na várzea e lá tem samba, lanchonete, bebida alcoólica e futebol. Isto não tem jeito de dar certo. No Romão Gomes não temos lanchonete, muito menos bebida alcoólica e os policiais conferem os documentos dos carros que entram. Fico nervoso quando pego um pai fumando. Se fumar, se xingar, a criança vai fazer a mesma coisa", adverte ele.

Mamede destaca que o campo de terra batida do presídio militar ajudou na formação de Gabriel Jesus. "O jogador hoje que joga só no gramado não adquire domínio de bola. Costumo sempre passar para os garotos que eles precisam dominar e passar a bola. Se você vai a um treino de profissionais, eles ficam fazendo controle de bola, passe, domínio... A turma dos pequenos pensa que só eles fazem isso. Acho nosso campo muito bom, não empossa água. Sou contra 'gramar'".

Ele tem um DVD de uma partida disputada pelo Pequeninos do Meio Ambiente no fim dos anos 2000 na qual Gabriel Jesus marcou um gol, mas destaca que o intuito da gravação não era promover os garotos. "Isso pra mim é tão ruim. Esse DVD foi alguém que gravou. Se fazemos vídeo para um garoto, ele não joga mais nada, fica ansioso, nervoso". Mamede diz que, se um dia a joia do Palmeiras estiver na Europa e quiser ajudar o time, a contribuição será muito bem aceita.

Assista ao gol e aos melhores momentos de quando Gabriel Jesus era criança no vídeo exclusivo:

"As crianças são a base de tudo. Cobro educação, respeito, tem que ter nota escolar. Tem uma fase do campeonato que se o garoto tiver nota vermelha, fica um jogo sem atuar. O Gabrielzinho sempre foi excelente em tudo. Nunca deu trabalho na escola", exalta José Francisco Mamede. "O Pequeninos do Meio ambiente tem um lema que tirei do parachoque de um caminhão. 'Ajudai hoje uma criança, para não ter que reprimir um adulto amanhã'. Já coloquei 11 crianças dentro do meu fusca para irmos a um jogo. Esta é a coisa que eu mais gosto. Minha esposa fica um pouco enciumada, mas ela sabe que para eu ser feliz tenho que ter esse trabalho", finaliza o treinador que lapidou Gabriel Jesus.

Mamede no campo do Presídio Militar Romão Gomes (Foto: André Lucena/RedeTV!)

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