09/12/2021 09:33:00

Na contramão do Nordeste, futebol cearense vive bom momento e sonha com a Libertadores

Elcio Mendonça/Redação RedeTV!

Fortaleza se tornou o primeiro classificado nordestino via pontos corridos, enquanto o Ceará ainda luta por um lugar na competição

23 de setembro de 2017. Após oito temporadas na Série C, o Fortaleza conquistava o retorno à Série B ao levar a melhor no mata mata contra o Tupi. Quatro anos e dois meses depois, nova festa. Mas não era para celebrar um acesso ou alguma conquista regional, o Leão estava classificado pela primeira vez à fase de grupos da Libertadores.

Uma conquista histórica não apenas para o clube, mas também para o Nordeste. Trata-se do primeiro time da região a conseguir um lugar na principal competição do continente através do Brasileirão de pontos corridos. 

Nesse século apenas outro nordestino conquistou um lugar na Libertadores, o Sport, em 2009, depois de vencer a Copa do Brasil no ano anterior.

O rival Ceará não fica atrás, e chega à última rodada do Brasileirão com possibilidade de também se classificar. Precisa vencer um time alternativo do Palmeiras, em Barueri, e torcer por tropeços de América-MG e Atlético-GO. O trio tem a mesma pontuação, com 50 pontos, mas os cearenses levam a pior no número de vitórias.

Mesmo que a também inédita classificação não venha, a temporada do Alvinegro foi positiva. Uma campanha segura, sem real risco de rebaixamento, garantindo ao menos um lugar na próxima Sul-americana.

A realidade da dupla contrasta com o futebol nordestino. Pela primeira vez na história dos pontos corridos o Nordeste passou duas temporadas seguidas sem ao menos um acesso para a elite do futebol nacional. O mesmo também aconteceu na Série C.

Estados tradicionais do futebol brasileiro amargam um mau momento. Em Pernambuco, o Sport foi rebaixado à Série B, enquanto o Santa Cruz caiu para a quarta divisão nacional. Em solo baiano, o Vitória foi para a Série C, enquanto o Bahia luta para evitar o rebaixamento.

A pandemia tem impacto direto nesse cenário. A crise econômica também tem como consequência um aumento na desigualdade social, algo que ajudou a aumentar a distância para regiões como Sul ou Sudeste. O futebol não é exceção, principalmente quando os clubes têm necessidade de gerar dinheiro através de patrocínios.

"Com a pandemia foram percebidos impactos na sociedade e na economia. Na parte econômica gerou uma recessão e redução de receitas em diversos segmentos. Muitas empresas cortaram gastos que refletem diretamente e indiretamente no investimento com publicidade", avalia Rodrigo Luz, consultor de gestão. 

Com menos receita, os clubes precisaram se reinventar, e largou na frente quem já tinha uma gestão profissional, como explica Marcelo Paz, presidente do Fortaleza. "Nosso principal ponto diferencial nessa ascensão foi o profissionalismo. Tratar o clube como empresa, ter planejamento estratégico, metas e objetivos para cada diretoria. Fizemos uma diretoria com escolhas técnicas, não políticas. Ter dirigentes remunerados, gerando mais compromisso com o clube. Acho que essa tomada de profissionalismo fez as coisas andarem um pouco mais".

Outro ponto importante foi uma melhor distribuição da cotas referentes às transmissões dos jogos na Série A. Com a entrada da Turner em 2019, que fechou com alguns clubes, entre eles Ceará e Fortaleza, para exibição das partidas na tv fechada, houve uma mudança na divisão das cotas, que passaram a ser menos desiguais e também começaram a levar em conta conceitos como desempenho esportivo e audiência. A mudança também levou a Globo a rever alguns pontos do seu acordo com as equipes.

"Acho que alguns fatores contribuem para isso (bom momento do Ceará). Uma gestão equilibrada, com planejamento claro em todas as áreas do clube, é fundamental, mas vejo, também, que a melhor distribuição dos direitos de imagem do campeonato para os clubes também foi importante para a estruturação dos clubes. Ainda existe uma diferença financeira importante e que precisa ser equacionada. Vamos evoluir ainda mais quando isso ocorrer", avalia Lavor Neto, diretor de comunicação e marketing do Vozão.

Foto: Divulgação/Fortaleza

Revolução Tricolor

A ascensão do Fortaleza é algo inédito no futebol brasileiro. Quem chega perto disso é o Grêmio, que em dois anos saltou da Série B à final da Libertadores, em 2007. Mas o clube gaúcho já tinha duas conquistas continentais quando alcançou a decisão, sendo uma espécie de retomada de grandeza.

O caso do Tricolor é diferente, até por se tratar de uma participação inédita, de um clube que vem em uma evolução. E esse crescimento foi baseado em dois pilares: melhora da estrutura e profissionalismo, como explica o presidente Marcelo Paz.

"São vários fatores combinados. Investimento em estrutura, compromisso financeiro. Mas tudo isso vem à partir do profissionalismo, ter pessoas preparadas nos mais diversos cargos", conta o mandatário, que também ressalta a importância da torcida ter abraçado o projeto.

"O Fortaleza sempre teve um ativo importante que é uma torcida muito grande para o tamanho do nosso estado. Uma torcida que chega junto, faz sócio torcedor, vai ao estádio, que compra produto oficial. A torcida passou a acreditar na gestão por causa do profissionalismo".

A expectativa para o próximo ano, com a possibilidade de público durante toda a temporada, e, claro, a disputa da Libertadores, empolga o mandatário tricolor.

"A gente vê 2022 como um ano especial na história do clube. No sentido de participar pela primeira vez da maior competição do continente, de ter mais uma vez um calendário muito cheio. Teremos mais receitas do que nos anos anteriores, sobretudo pela cota da Libertadores, a volta do público nos estádios e a volta do sócio torcedor. Mas isso não garante nenhum resultado esportivo. A gente precisa seguir com o mesmo cuidado, com o mesmo profissionalismo"

Foto: Divulgação/Ceará

Regularidade Alvinegra

Em 2022 o Ceará disputará a Série A pela quinta vez consecutiva, o que traduz fielmente a boa gestão do clube em um cenário de grande competitividade como a elite do futebol brasileiro.

Algo que não era comum até há alguns anos. Times de fora do "G12" tinham enorme dificuldade para engatar mais do que duas temporadas no Brasileirão, o que vem mudando ano após ano.

"Alguns anos atrás os times que ficavam fora do eixo Rio-São Paulo, Minas ou no Sul, tinham um pouco mais de dificuldade para se manter na Série A. Eu acredito que o futebol hoje está muito nivelado", explica o volante Fabinho, que está em sua quarta temporada no Vozão, para depois completar.

"O retorno financeiro acontece quando você consegue uma longevidade na Série A. Isso faz com que você consiga planejar maiores investimentos em jogadores, em estrutura. E eu vejo o Ceará nesse caminho".

A visão é compartilhada por Lavor Neto. "O Ceará vem se estruturando com os pés no chão, jogando dentro de sua realidade e buscando diminuir a margem de erro. Precisamos ser muito assertivos e isso significa ser criativo e inovador para fazer muito com menos", afirma o diretor de comunicação e marketing.

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